QUANDO CONHECI BOWIE
Conheci David Bowie em 1974.
Magro. Magérrimo. Cadavérico até.
Era Santa Efigênia. Chovia.Manhã de sábado.
Eu tinha cabelos compridos. Magro também.
E carregava numa bolsa a matéria prima do futuro: Sonhos.
Ele talvez menos. Acho que carregava mais uma carga explosiva. Acho que sementes.
Mais me impressionou seu olhar, depois da magrice.
Depois veio o som.
Lembro que ouvia aquilo como algo fantástico; mais do que música.
Não sabia que dele viriam coisas melhores aindas.
Sementes que dariam árvores que dariam pássaros.
E eu nunca plantei meus sonhos. Nunca os contei a ele.
Ficaram na bolsa.
Ainda tenho uma.
Quando conheci Bowie eu ainda podia. Sentia que podia.
Hoje leio sua trajetória e traço uma paralela. De um garoto magro, cabeludo, que tinha numa bolsa a matéria prima do futuro.
Mas nunca tirou...