David Bowie num concerto em Hamburgo na Alemanha, em outubro de 2003
(Créditos da imagem: M. Gambarini / Arquivo Agência Lusa)


 
 
"O ROCK AND ROLL NUNCA VAI MORRER"
ou
O ROCK
AND ROLL PERTENCE AO GÊNERO MASCULINO 
 
 
"O Rock and Roll nunca vai morrer" disse Neil Young em uma de suas imortais canções; numa entrevista concedida à Revista britânica NME em setembro de 2014, o ex-Beatle Ringo Starr revelou que nunca acreditou que o Rock and Roll possa morrer e que o gênero rock nunca desaparecerá; no entanto, em sua canção “Rock and Roll is Dead”, Lenny Kravitz diz que o "Rock and Roll está morto".
Desde os anos 60 dizia-se que o rock estava morrendo e até mesmo os Beatles ouviram do próprio dono de uma das maiores gravadoras da Inglaterra que "O rock com guitarras já havia dado seu último suspiro com Chuck Berry".


Se o rock and roll realmente estivesse morrendo, como explicar 80, 90, 100 mil pessoas nos festivais ou shows únicos de bandas rock lotando estádios? Nenhum gênero musical simplesmente desaparece do nada, assim, do dia pra noite. Poderíamos questionar que o jazz, o blues, ou até mesmo a música clássica morreram só porque não estão nas listas das músicas mais procuradas nos últimos tempos?
O rock como uma forma de arte, como a própria música em si, será de fato imortal por todo seu legado, cantores, bandas e canções que fizeram história.

A década de 60 introduziu os anos dourados do rock and roll que nasceu da necessidade de expressar a rebeldia e liberdade que a juventude dos anos 50 trazia entalada na garganta. No grito visceral do rock and roll encontraram a melhor forma de colocar tudo isso pra fora. Crescemos ouvindo os sucessos de Elvis Presley que no final dos anos 50 havia chocado uma sociedade extremamente conservadora e revolucionou a música; os dos Beatles que nos anos 60 quebraram paradigmas e continuaram revolucionando a música; continuamos crescendo ouvindo Rolling Stones; Deep Purple; Led Zeppelin; Pink Floyd; ACDC; Queen; Guns N' Roses; Scorpions; Supertramp; Dire Straits; The Police; Nirvana; Pearl Jam...

Não acredito em bandas novas fazendo algo tão relevante como estes clássicos fizeram. Renato Russo é também um clássico. Não foi apenas um cantor, foi e sempre será o ídolo de milhões de pessoas, de gerações passadas e futuras, ao lado de John Lennon, Freddie Mercury, Jim Morrison, Eric Clapton, Roger Waters, Bono Vox, David Bowie... os poetas do rock.
Há muitos anos que não vemos cantores desfrutando do mesmo prestígio e fama que eles tiveram. Relendo a lista, reparo que o rock and roll pertence ao gênero masculino. Penso que é a primeira vez que vejo sob essa perspectiva. 

Algumas bandas já não existem, outras envelheceram e se desagruparam e a indústria está cambaleando. Estaremos testemunhando o fim do rock, como acreditam alguns fãs cujas perspectivas são apocalípticas?
Talvez hoje o rock não tenha mais tanta visibilidade como tinha há algumas décadas e isso ocorre no mundo todo. O álbum de vinil permitia que escutássemos certas músicas por um único artista em uma ordem específica. Não cansávamos de ouvir os mesmos álbuns repetidas vezes e não imaginávamos que o mundo digital estava a um passo.

Décadas atrás as bandas tinham seu grupo de fãs que tinham propriedade delas. Agora é o consumidor que manda, então a música vai para onde o consumidor exigir que ela vá, e tudo isso apenas com um clique, instantaneamente. A tecnologia peca por permitir o excesso e o excesso acaba com a graça. As coisas valem na medida de sua raridade. 
Hoje a cultura popular costuma ricochetear de uma moda para a próxima, o  pop, o hip hop, o funk e outros gêneros estão sendo mais ouvidos e cada vez mais artistas novos surgem. Mas o rock continua resistindo, apesar da influência dos "donos da mídia", da indústria fonográfica e do impacto da revolução digital.

Parece plausível que o futuro tenha menos grandes cantores. Mas os que já existiram permanecerão. São gigantes  que sempre andarão sobre a terra. O rock, eterno em sua essência, imutável, não está morrendo, quem está morrendo é a indústria fonográfica. Ainda que com menos grandes cantores e menos boa música, a vida segue, seguirá sempre. Como o bom e velho rock and roll descrito por ACDC: “Não dá para parar. Nunca.”


Hoje o mundo despertou com a triste notícia da morte do cantor e compositor britânico David Bowie, dois dias após completar 69 anos. Bowie celebrou seu aniversário com o lançamento do álbum Blackstar, que renderá numerosas interpretações nos dias e nas décadas que virão: o cantor estava doente há dezoito meses lutando contra um câncer e no vídeo tenta descrever sua despedida. 

O homem das "mil faces" foi um verdadeiro artista camaleônico, conquistando milhões de fãs no mundo inteiro pelo seu jeito simples e ao mesmo tempo irreverente de ser. Condignamente foi colocado na mesma e abrangente caixa do “classic rock”, ao lado de Stones, Beatles e Queen. O seu magnetismo e inesgotável força comercial - que vendeu aproximadamente 136 milhões de discos em todo o mundo - lhe valeram um também merecido espaço no museu londrino Victoria & Albert, que lhe dedica uma extensa exposição,
Obrigada, Bowie, por tudo que nos deu!

11/01/2016
Ana Flor do Lácio


 
Ana Flor do Lácio
Enviado por Ana Flor do Lácio em 12/01/2016
Reeditado em 12/01/2016
Código do texto: T5508035
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