A cela
Encontro-me trancafiada. Presa em uma cela da minha própria alma. Um cúbiculo escuro, frio e imundo, sem esperanças de libertação.
Aquele que a mim jurou companhia nem mesmo tornou a me visitar.
Condenada, recebo a penitência que a mim foi destinada, enquanto costuro de dor minha solidão.
Olho à um canto, há um quadro que denota um sorriso ou, talvez, uma contorção em agonia. Ouço o tic-tac do relógio imaginário que indica o tempo que passa veloz e impiedoso. O sol há tempos não dá o ar de sua graça. Dois morcegos me fazem companhia. Três ratos tentam, a todo custo, roer-me os pés, contudo não se empenham em rasgar minhas amarras. Um corvo pousa ao parapeito da minúscula janela todas as manhãs e, como em tom de deboche, solta pios esganiçados em substituição ao gorgeio suave daquele colibri que voou para longe.
Choro. Duas formigas vem beber-me as lágrimas. Morrem embriagadas pela carga ruim a quais representam.
Deito-me ao chão da cela, uma cobra rasteja aos meus pés. Imploro-lhe com o olhar que me inocule um pouco de seu veneno. A dita apenas me lança um ar superior e meneia a cabeça como quem pede um pouco de calma.
De repente faz-se ouvir um estrondo. As paredes ruem. Desvio meu olhar para fora do cárcere e à minha frente tudo o que se vê é um mausoléu sombrio entregue às ruínas. Não há sinal do colibri. Não ouso sair. Fecho os olhos uma última vez. Fecha-se a janela da alma. O corvo, assustado, levanta voo. Prefiro a prisão.