A Tampa e a Mulher
Em casa sou bendito fruto entre as mulheres. São três filhas, a esposa e a empregada: cinco contra um. Não quero criar nenhuma nova teoria acerca da psique feminina, quero apenas atentar para um detalhe comportamental comum entre elas, qual seja, o desprezo às tampas. Tampas de canetas, de tubo de pasta de dente, de perfumes, de potes de manteiga e de doces, tampas de panelas, de vasilhas e outros utensílios dotados desta peça. A única tampa que prezam e dela não abrem mão é a única que nós homens desprezamos: a tampa do vaso sanitário. Por esta elas brigam, reclamam, fazem um dramalhão só porque a deixamos em pé ou, em caso contrário, coberta de gotículas de xixi. As outras vivem perdidas pela casa, quando não são descartadas prematura e definitivamente. Experimente emprestar uma caneta com tampa para uma mulher; se for devolvida, o será sem a tampa. E tente cobrá-la, mesmo sendo em cômodo fechado, sem se ter ido ela a lugar nenhum, nunca mais você encontrará a tampa, não sei onde a enfiam.
Para não me alongar muito, quero falar da importância de apenas duas ou três destas tampas. A tampa da caneta esferográfica protege a esfera contida na sua ponta, evitando ressecamento e danos por queda, pois quando a caneta cai, invariavelmente cai de ponta por ser a parte mais pesada. Garante, portanto, maior longevidade do material. A tampa do tubo de pasta de dente é fundamental para evitar o ressecamento e endurecimento da pasta, o que traz muito desperdício do material e deixa impraticável o manuseio do tubo.
Mas insistem em descartar, jogar fora as tampas. Talvez o façam inconscientemente, mas parece que é só para nos atazanar. Outro dia, aqui em casa, jogaram fora a tampa do compartimento onde fica a bateria do telefone. Agora faço uso de uma fita adesiva para prender a bateria, assim como faço uso do insufilme para tampar alguns recipientes.
Mas, a despeito do sumiço das tampas, sigo feliz entre as minhas mulheres, segurando as pontas e improvisando tampas.