Piada e Preconceito
Nada descreve melhor o caráter dos homens
do que aquilo que eles acham ridículo.
Goethe
Dia desses, flagrei uma piada racista no face de um sobrinho. Releve-se o fato de ele ser um garoto de uns treze anos ainda e também, o incentivo nos comentários dos amigos, todos provavelmente na mesma faixa etária, elogiando e rindo em muitos kkk e rsrsrs.
Me senti na obrigação de dar um toque. Em privado, claro, e, sem entrar muito na questão de certo e errado, falei do policiamento ideológico que poderia lhe causar problemas e aos seus pais e ainda mostrei empatia, dizendo que, na minha juventude, também contava muitas piadas preconceituosas. Ele acatou o conselho e retirou a postagem que, afinal, era bem sem graça. Penso que o teria feito pelos argumentos corretos, mas fiquei insegura de ferir suscetibilidades adolescentes.
Depois, fiquei pensando nisso. Há alguns anos, contávamos mesmo piadas de português, de louco, de gay, de gago, de negros, de japoneses, machistas, feministas… Nossa única preocupação, então, era fazer rir. Hoje, precisamos evitar o politicamente incorreto e ter muito cuidado ao nos expressarmos pois tudo o que dissermos poderá ser usado contra nós nos tribunais. Lembrando que nem todo tribunal é como os nossos em que reina a impunidade, como observaram, há um ano, os redatores do Charlie Hebdo no triste atentado à sede do jornal após charges ironizando o profeta Maomé.
Extremismos à parte, o que alguns entendem como cerceamento da liberdade de expressão e censura, é, na verdade, a evolução de uma sensibilidade coletiva para as diversas formas de discriminação do outro devido às suas origens, sexo, raça, credo, preferências sexuais ou qualquer outra característica que o diminua como indivíduo numa comunidade.
Ainda que pareçam inofensivas, as anedotas perpetuam conceitos equivocados associados a determinados grupos de pessoas, criando um senso comum que induz ao preconceito em suas diversas formas, que vão de pequenos gestos até às agressões físicas e assassinatos.
Evitá-las, é mais um passo neste longo caminho que precisamos trilhar, em busca de uma sociedade mais justa e inclusiva.
Mas... E como é que se faz humor agora?
Pois, é. Só sendo mesmo engraçado.
Texto publicado em minha coluna de hoje no jornal Alô Brasília.
Me senti na obrigação de dar um toque. Em privado, claro, e, sem entrar muito na questão de certo e errado, falei do policiamento ideológico que poderia lhe causar problemas e aos seus pais e ainda mostrei empatia, dizendo que, na minha juventude, também contava muitas piadas preconceituosas. Ele acatou o conselho e retirou a postagem que, afinal, era bem sem graça. Penso que o teria feito pelos argumentos corretos, mas fiquei insegura de ferir suscetibilidades adolescentes.
Depois, fiquei pensando nisso. Há alguns anos, contávamos mesmo piadas de português, de louco, de gay, de gago, de negros, de japoneses, machistas, feministas… Nossa única preocupação, então, era fazer rir. Hoje, precisamos evitar o politicamente incorreto e ter muito cuidado ao nos expressarmos pois tudo o que dissermos poderá ser usado contra nós nos tribunais. Lembrando que nem todo tribunal é como os nossos em que reina a impunidade, como observaram, há um ano, os redatores do Charlie Hebdo no triste atentado à sede do jornal após charges ironizando o profeta Maomé.
Extremismos à parte, o que alguns entendem como cerceamento da liberdade de expressão e censura, é, na verdade, a evolução de uma sensibilidade coletiva para as diversas formas de discriminação do outro devido às suas origens, sexo, raça, credo, preferências sexuais ou qualquer outra característica que o diminua como indivíduo numa comunidade.
Ainda que pareçam inofensivas, as anedotas perpetuam conceitos equivocados associados a determinados grupos de pessoas, criando um senso comum que induz ao preconceito em suas diversas formas, que vão de pequenos gestos até às agressões físicas e assassinatos.
Evitá-las, é mais um passo neste longo caminho que precisamos trilhar, em busca de uma sociedade mais justa e inclusiva.
Mas... E como é que se faz humor agora?
Pois, é. Só sendo mesmo engraçado.
Texto publicado em minha coluna de hoje no jornal Alô Brasília.