O Celacanto
Ana Esther
Quando eu era pequena e morava em Caxias do Sul (RS) a programação da TV começava somente à tarde. Eu tinha 4 ou 5 anos e aguardava com grande expectativa os episódios da série japonesa National Kid, hoje um verdadeiro cult. O herói vestia máscara e capa e voava pela cidade. Claro que me apaixonei e queria até casar com ele!
Paixonite infantil de lado, um dos inimigos do herói era o temível Celacanto, um peixe enorme que no seriado japonês assumia o papel de um vilão monstruoso. Passei a imaginar o Celacanto como um personagem de contos de fada como outro qualquer e ele passou a reinar no meu mundo da ficção provavelmente ao lado da bruxa malvada da Branca de Neve.
O tempo foi passando, a série desapareceu da TV, eu fui crescendo, já não sonhava mais em casar com o National Kid, mas volta e meia lembrava-me do Celacanto. Com a ajuda da minha mãe descobri que se tratava de um peixe considerado já extinto há muitos anos. Aí mesmo que o Celacanto ficou grudado na minha mente imaginativa e criativa... não mais ao lado da bruxa malvada, mas sim junto a companheiros como o Pterodáctilo e o pássaro Dodô.
Mais anos se passaram e o Celacanto, embalando minhas memórias da infância, permanecia um personagem sempre vivo. Até que fui estudar na Austrália e no dia que visitei o AustralianMuseum em Sydney com quem me deparo? Com um belo exemplar de Celacanto conservado, creio que em formol, e exposto ao público. Paralisei, fiquei como que hipnotizada, com os olhos fixados no arqui-inimigo do National Kid!
Minha alegria é inenarrável com tantas implicações envolvidas. Um bônus extra que eu jamais imaginaria receber. Minha relação com o Celacanto agora assumia outra proporção: da ficção ele passou à realidade, pois eu o vira “pessoalmente”.
Mas a história ainda não terminou! Há uns dois anos, vi uma reportagem na TV contando a façanha de uns mergulhadores que descobriram Celacantos remanescentes nos mares da África do Sul... Ou seja, tenho grandes possibilidades de um dia poder encontrar um Celacanto de verdade não na TV e nem no museu, mas “ao vivo”!
*Esta minha crônica aparece publicada na Revista On-line VARAL DO BRASIL Número 39 Janeiro/2016 (pág. 16) editada por Jacqueline Aisenmann [Genebra, Suíça].