Esta Noite 


Uma noite de gala, tudo parecia perfeito.

Naquela euforia de início de evento, algumas pessoas simplesmente passavam, enquanto outras pousavam para fotografias, jornais e revistas.
Ao descer do carro em meio à multidão, flashes.
Nessas horas é difícil enxergar além das luzes e flashes, mas ele estava lá, tentando chegar mais perto da entrada.
Diante da barreira de seguranças, era impossível para ele encostar.
Quando menos esperava, ele estava parado a me olhar.
_ Apenas esta noite, por um instante vim te olhar.  Finja que não me conhece, não precisa falar.
Quem já não fez uma loucura, talvez por uma boa razão?
O coração pulsava, carregado de memórias e de emoções.
O tempo parou e as lembranças afloraram mais rápido que os flashes.
Sim, era ele mesmo ali parado me fitando; um olhar na multidão.
Ah! Desabou meu chão. Aguenta, coração paspalhão!
Uma situação insólita e embaraçosa: “Para quem estás a olhar”?
O que está acontecendo?  O mundo parecia rodar, sem ar.
E agora? Em que direção caminhar; o que justificar?
_ Será que podes me falar o que há contigo? Não estou entendendo nada. Vamos logo entrar; tu não me pareces bem. Venha!
Ele continuava a me observar.  Acho que nos falamos só pelo olhar, sabia que eu iria voltar.
Adentrando no salão, onde o evento continuava a transcorrer, grandes emoções...
Lá dentro a noite fervia. Champanhe, um brindar; saída pela tangente.
Ao fundo, aquela música: Ora, como não recordar? Era a mesma que, no passado, marcou momentos que, hoje vieram à tona, com a imagem dele na minha frente.
A situação era muito difícil. O físico estava ali, mas a mente ficara lá fora e o sentimento falava alto.
Por um momento, as lágrimas começaram a cair sem explicação, tão logo as perguntas dispararam: Meu Deus, o que estava acontecendo?  Em um minuto de lucidez, argumentei que precisava sair dali por uns minutos e tão logo voltaria.
Na velocidade dos pensamentos, saí e ele estava lá. Certamente sabia que eu iria voltar. Saímos depressa.
Fomos em direção ao mar, que não estava distante de onde o evento estava sendo realizado.  Sem dar uma palavra, sentamo-nos à beira mar, quebrando o silêncio entre olhares, rimos sem saber o que falar.  As diferenças não foram suficientes para resistirem àquele amor, que nem o tempo apagou.  Bastou à presença para o mundo dos flashes ficar para trás, éramos apenas nós e o mar.
A noite parecia sorrir cariciosamente, com as estrelas e seu brilho incomparável.  As juras de amor eterno, de almas que se amavam além do TER, foram momentos inesquecíveis do SER. Um amor que foi além do tempo e das adversidades e circunstâncias da vida, e que ainda assim não acabou.
Nem sempre a vida é como achamos que é.  Às vezes ela dá volta e voltas e quando achamos que sabemos todas as respostas, o destino muda todas as perguntas. 
Nada substituiu o amor: não foi o vestido de grife; o Mercedes ou o terno suíço. Simplesmente o amor, este sentimento que é o grande eixo da vida, venceu e sempre vencerá.
A riqueza maior de um ser não está nas roupas, no bem material, nem nos lugares que ele frequenta, tampouco no valor do Champanhe francês que toma.  Este valor está na forma de ver a vida e do seu papel aqui nesta breve passagem.  Um dia aprenderemos a nos questionar sobre o que mais damos valor nesta breve passagem; sobre o que mais amamos nesta vida, para termos a certeza de que estamos no caminho certo. O que se leva da vida, é a vida que se leva.  Se a felicidade não durar a vida toda, ainda assim, que seja eterna enquanto dure.  Tudo o que temos são os momentos vividos.
 
 
 
Peabo Bryson & Roberta Flack - Tonight I Celebrate My Love
https://www.youtube.com/watch?v=JM5Kttjpg_I
 
Maria Mendes
Enviado por Maria Mendes em 07/01/2016
Reeditado em 07/01/2016
Código do texto: T5503165
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