Crônicas de um estudante 2
Para quem leu o "crônicas de um estudante" deu pra notar um pouco do desespero, na falta de uma palavra melhor, para realizar as provas de mestrado em duas cidades diferentes na mesma semana. Bom, pelo menos tudo aquilo valeu a pena, ufa! passei nas duas seleções. Depois de muito pensar acabei optando por ir para Brasília e estudar na UnB.
O Relato abaixo é uma das historias que aconteceram em Brasília. Boa leitura!
28/06/2010 – 02/07/2010
Boa noite. Estou em Brasília a cerca de 4 meses. Tenho muitas e muitas histórias e aventuras desse período, na verdade era pra ter começado a escrever isso bem antes. Nem sei se vai dar certo eu escrever as coisas como realmente foram nesse tempo. Então, vamos começar pelo que está mais próximo.
GREVE. Uma palavra bem comum neste meu começo de ano em Brasília. Hoje abri o jornal e vi que os “garis” cruzaram os braços desde ontem e estão reivindicando ajuste salarial. Claro. É só salário que é reivindicado. Semana passada teve greve de ônibus e da polícia civil. Há quatro meses os servidores da UnB estão em greve. Os professores da universidade ficaram de greve por três meses.
A greve dos garis até o momento, não está me afetando diretamente. E nem tenho muitas aventuras a relatar sobre o fato. Agora a greve dos ônibus...
Há três semanas o sindicato dos rodoviários disse que na semana seguinte, ou seja, há duas semanas eles entrariam em greve e que não ia rodar nenhum ônibus nas ruas. Mas a greve geral não ocorreu naquela semana, só foi adiada por mais uma semana. O caos, mesmo, foi semana passada.
Segunda passada acordo, primeiro pensamento: “Como vou para a UnB?”. A Eli (Eliana), amiga minha do curso, me liga perguntando como eu iria. Hoje eu não sei o que respondi, mas lembro de ter dito que os ônibus de Goiás estavam passando (os da empresa VIAN). Me arrumei e fui para a W3 sul, tentei esperar o ônibus. Inútil. Só passava ônibus para a W3 norte. A aula já havia começado. Solução: táxi. Cheguei a aula não tinha começado, se eu não me engano, comigo éramos 3 alunos. Os outros foram chegando aos poucos, alguns ainda faltaram. A volta eu me virei, o Silvio (outro amigo meu do curso) me ofereceu carona, perguntei por onde ele passaria, disse que ia pela L4 (uma das avenidas de Brasília que passa pela frente do plano plano piloto, já próximo ao lago Paranoá), perguntei se ele passaria pelo Pier21 um dos Shoppings da cidade, ele disse que sim. Ótimo, de lá era mais perto de ir pra casa e me virava.
O Silvio me deixou no Pier21 como prometeu, de quebra ainda conheci o shopping e cheguei bem perto do lago Paranoá, pela primeira vez. Após esse momento de turista, decidi ir pra casa. Olhei a placa ao lado do Shopping, setor de clube sul, mas deveria estar na altura da quadra 804 sul, eu morava na 704 sul era só ir reto. Bom pra quem não conhece Brasília, as quadras são nesta sequencia: 704, 504, 304, 104, 204, 404, 604 e 804. Ou seja estava bem distante. Não tem problema, pensei eu, é só ir reto!
O problema é que no meio do caminha havia o setor de embaixadas sul, e pra uma pessoa que não um bom senso de direção, nem sempre o 'reto' sai 'reto' de fato. Resultado fiquei perdido no setor de embaixadas sul, em um calor escaldante de 4h da tarde de Brasília, Passei duas vezes, pela embaixada da França, vi a decoração da embaixada da áfrica do sul (até a embaixada se preparou para a copa), mas a alegria maior foi quando eu vi o símbolo de um dos prédios que sabia que ficava na L2 e saí correndo, quando me dei conta estava do lado da embaixada dos Estados Unidos, correndo pela calçada. Me contive, vai que eles achavam que era um terrorista? e fui andando o mais rápido que meus pensamentos de não ser preso deixava... 1:00h perdido, no setor de embaixadas. Bom, cheguei a L2 sul, mas não tinha mas fôlego de ir a pé. Peguei um táxi para casa. Sabe aquele provérbio de o barato sai caro? Bom aprendo bem o que ele realmente quer dizer naquele dia! Segunda-feira tudo certo! ou melhor, na medida do possível, tudo certo!
Na terça eu fui a Cenargem peguei um ônibus da VIAN e fui até o final da asa norte, até aí tudo bem. O problema é que o que eu fui fazer lá não deu certo. Depois eu tinha que ir a UnB, mas em greve, como ia fazer isso? Fui atrás de um ponto de táxi, quando achei um , o último táxi estava saindo ainda fiquei esperando um outro, mas nada. Decidi ir atrás de outro, pedi informações e sempre diziam que mais a frente tinha, e mais a frente tinha. Resultado, depois de uma volta toda e ter chegado a 513 norte, decidi cortar caminho. Cheguei até a 211 norte e de lá a 409 norte. A pé. Mas tinha que ir para UnB não tinha jeito... continuei a caminhada, fui parar na 404 norte, e como se não bastasse fiz uma coisa que fazia tempo que não fazia "andar" dessa vez, até o bloco. Nessa brincadeira, demorei umas 2 horas andando com sol a pino. Cheguei na UnB ofegante. A minha sorte é que a Eli estava lá! vendo eu chegar naquele estado... se não fosse ela ter comprado uma água (Brasília costuma ser bem seca) acho realmente que terai desmaiado.
Quarta a ida e a volta também foi de táxi (tava cansado de ir a pé e me perder). Mas claro, que teria que acontecer algo, é a lei de Murphy! Na quarta tiveram alguns agravantes. Fui o último a sair do laboratório, ou melhor, do prédio, mas não tinha chave para fechar. Liguei para minha orientadora, encontramos uma solução. Fui para casa com a certeza que estava tudo certo. Que engano! Quando cheguei em casa, verifiquei que a chave do laboratório estava no meu bolso e para tentar minimizar o estrago teria que chegar o mais cedo possível no dia seguinte. Isso até que seria fácil se não fosse á greve.
Quarto dia de greve dos rodoviários. Esperar na parada não funcionou muito quando você está contra o relógio. Se não bastasse acordar muito cedo, antes do sol nascer (por que o sol em Brasília começa a nascer lá pelas 6:00-6:30h) fui a pé para o Pátio Brasil (um shopping a umas 3 quadras), onde pude pegar um transporte clandestino até a rodoviária. Dei uma nadada por lá, mas não se via ônibus. Foi uma sensação muito estranha, um ambiente onde todos se encontram (como descreve a placa de Lúcio Costa) estava vazio. Poucas pessoas se arriscavam a andar por lá. A solução foi pegar mais uma vez o táxi (quem vê pensa que a bolsa dava pra pagar esses taxis todos né? nada do que cortar a comida pela metade durante 1 mês). Cheguei à faculdade 7:30h por apenas 10 reais. Um feito histórico.
A quinta-feira sempre é um dia cansativo por causa da aula a noite. E esta foi especial. A aula demorou mais do que eu pensava. O devia ter acabado 22:50h, ultrapassou em vinte minutos o tempo normal. Nesse dia eu peguei carona com o João, ele me deixou aqui bem perto de casa, o suficiente para eu chegar correndo, me arrumar na correria costumeira. Coloquei o celular no carregador, que estava descarregado desde o meio da tarde liguei para o táxi e já voltei a desligá-lo, precisaria desta carga quando chegasse a Goiânia (precisava assistir o jogo da copa lá). Enquanto esperava o taxi fiquei conversando com o Bráulio, um dos moradores lá da casa, o taxi chegou as 23:47h. Só depois que eu lembrei que tinha esquecido de deixar a chave do meu quarto.
Assim que entrei no taxi pedi para ir correndo para a rodoferroviária porque meu ônibus sairia as 23:50h, menti (Ok, mentir nem sempre é a solução e não faço isso com frequência, só quando estou atrasado). Ele disse que não daria tempo, mas então respondi que eles sempre esperam uns 5 minutos, o taxista, então, correu à 120 Km/h nas avenidas largas do eixo monumental, cheguei na rodoferroviária às 23:53h. Paguei o taxi, R$ 15,00, nunca tinha sido tão barato a corrida. Fui direto então para o guichê, mas estava vazio. A solução era ir até o ônibus e vê no que dava. Quando cheguei o moço que vendia as passagens estava lá, perguntei se tinha lugar no ônibus, ele disse que tinha somente uma, mas que teria que pagar a vista por que o ônibus estava de saída e não teria como pegar a máquina do cartão no guichê. A passagem era R$ 28,75, mas por conta da greve dos ônibus só sobrara R$ 24,75 do dinheiro que tinha tirado para a semana. Não sei se o Bruno, o nome do moço da rodoferroviária, teve pena de mim ou não, mas ele deixou eu embarcar faltando R$ 4,00 com a promessa que pagaria na volta. Entrei no ônibus sem um real na carteira, mas rindo. Não acreditava na sorte.
Em Goiânia assisti o empate de Brasil e Portugal e a vitória Brasil contra o Chile pelas oitavas. Na mesma semana desse último jogo enfrentei mais uma jornada até Goiânia, mas o Brasil acabou sendo eliminado de virada pela Holanda. A copa para mim, e para os brasileiros, tinha acabado assim como a saga daquela quinta-feira.