Caráter utópico.

Não foi possível ver a cena, mas as vozes se aproximando e se distanciando a desenhavam em minha mente.

- Você nunca pegue nada de ninguém, ouviu ? Tantas vezes pegue, tantas “tornará” para devolver.

- Tá bom mãe !

- Não foi a primeira, nem a segunda mas será a última. De outra vez eu te arranco as mãos.

A partir daí já não ouvi mais nada, todavia bastou para me trazer inúmeras cenas de minha própria vida. Quando se origina, vive e convive num ambiente de parcos recursos, é fácil, comum e habitual presenciarmos ou protagonizarmos esta mesma cena. As circunstâncias, oportunidades, e realidade tem influência sobre nós, mas cada um é responsável por suas escolhas. Hábitos moldam nosso caráter, exemplos também !

Um ouvido treinado talvez pela sensibilidade que a maternidade ou maturidade traz, me permite entender o silêncio tanto quanto me permitiu ouvir o amor em todas as palavras desta mãe. E a breve resposta da criança me tocou o coração. Não havia qualquer indício que alimentasse a frase com suposta violência, trata-se de uma ameaça vazia, porém repleta de dignidade bíblica.

Vejo que estamos numa realidade moderna, liberal e permissiva em diversos aspectos, onde em nome de uma psicologia de auto amor, de confiança, de enfim tantos conceitos bem elaborados e fundamentados, algumas regras da educação, limites e respeito foram sendo negligenciadas.

Que futuro haverá para uma sociedade em que o próximo é “problema dele”, em que para ter o meu , vale tudo ? Nem sei !

Em que lugar da história, pessoas que priorizam o respeito ao alheio, que buscam cumprir suas responsabilidades , que entendem que o seu espaço acaba logo alí, na cerca do vizinho, passaram a ser tolas ou manés ?

Exemplo, amor, tolerância, paciência, amor, proximidade, persistência e amor, eis minha receita particular para um mundo melhor. Mães como esta que hoje tive a feliz oportunidade de ouvir, me acalentam o coração: não é utopia !

Letranda
Enviado por Letranda em 06/01/2016
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