Ainda construímos muros...

As lágrimas escorriam pela face e meu coração batia forte ao vislumbrar em seus olhos a dor e o sofrimento que o rememorar da história lhe causava.

Eu vivi isto!”, ele disse. “Meus pais, eu e meus irmãos fomos separados dos meus avós pelo muro. Nós ficamos do lado de cá e eles ficaram do lado de lá”, explicou Joaquim enquanto mostrava no mapa os dois lados de que nos falava.

Um era o lado Ocidental de Berlim e o outro (onde ficaram seus avós) o lado Oriental. O período de separação foi de 1961 a 1989, no entanto, Joaquim e sua família nunca mais tiveram a chance de abraçar seus queridos.

Diplomata no Cairo, estava em férias em Berlim, sua terra Natal. Conhecia a cidade e sua história como ninguém. Era amigo pessoal de Olaf, que nos acompanhava na viagem pela Alemanha.

Em espanhol fluente, Joaquim fez questão de contar a história e mostrar a Berlim que o turista em geral não vê.

Enquanto a maioria dos guias turísticos seguia para o portão de Brandemburg, Joaquim passou ao largo, e nos levou para conhecer a história relatada por fotos num local nos fundos do Memorial ao Soldado Soviético. Depois levou-nos na rua em frente a Embaixada do Brasil onde (do outro lado) está encravado um pedaço do muro que ainda conserva a pintura original da época.
 
Também visitamos o Memorial aos Judeus Mortos, onde a emoção embargava sua voz enquanto explicava como o memorial foi construído, a ideia arquitetônica que permite que não importando o lado que se olhe sempre haverão sombras e luzes, claros e escuros entre as lápides...
 
Mais tarde, Joaquim seguiu conosco ao museu da torre de onde é possível observar, conservados como na época, um pedaço dos muros com uma guarita e o campo entre eles...

Ali se encontra o mapa que ele nos mostrou e inúmeros pedaços da história... 

Joaquim mostrou fotos onde uma família erguia um bebê por cima do muro para que os parentes pudessem conhecê-lo. Ao lado desta, outras, de famílias espiando o lado onde ficaram seus parentes. Um guarda pulando o muro e fugindo para o lado Ocidental, uma mãe reencontrando a filha e a neta após a queda do muro...

Por fim, Joaquim mostrou, com muita emoção, lugares de refúgio, casas/apartamentos construídos para aqueles que conseguiam fugir do lado Oriental residirem no lado Ocidental...
 
Hoje, relembrei esse dia com Joaquim. Senti sua dor e o baque do sofrimento que ele ainda carrega no peito...
 

E fiquei pensando...

Estamos em 2016. Quantos anos já se passaram?

E nós continuamos erguendo muros... nós continuamos separando...
Com nosso preconceito, com nosso individualismo, com nosso desamor...



Fotos:
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