A CAMADA DE OZÓRIO!?
Pequenas crônicas do cotidiano
Uma das coisas que aprecio é andar de ônibus. Programa de pobre,dirão.Sou um pobretão assumido,então...
Como não gosto de dirigir e residindo numa cidade pequena,resolvo meus “cuidos” (como costuma-se dizer por aqui),ora tomando o ônibus,ora indo à pé mesmo.
A segunda opção,além de saudável,proporciona boas oportunidades de reencontrar velhos amigos ou pessoas interessantes.
Mas,voltemos ao ponto de ônibus.
Uma pequena aglomeração de gente,alguns mais falantes,outros nem tanto,além,é claro ,daqueles calados ainda que com as “antenas ligadas”,o que era o meu caso.
Uma senhora de meia idade,espera pelo “inter bairros” (chic,né?) ao lado de um considerável número de sacolas de lojas bem conhecidas ,algumas até de griffe.
Faz calor e ela abana-se.Pela rua o movimento é intenso em função das festividades de fim de ano.
De repente,aporta ao ponto de ônibus outra senhora,aparentando ser um pouco mais velha que aquela das sacolas.
Chega toda espavorida,festiva,tentando chamar para si todas as atenções.
Jogam-se,literalmente,uma nos braços da outra.Beijam-se,bajulam-se,elogiam-se mutuamente.
Aí começa o diálogo,em alto e bom tom:
-Tá vindo de onde,”loca veia”? Pegunta aquela que já estava à espera da condução.
-Lá das bandas do Parque Aquático,responde vibrantemente.
”Minina!”,Fui àquela loja de departamentos nas proximidades.Além do preço baixo,preenchi um monte de cupons para concorrer a um passeio de balão!
-Jura!
Ah! Se ganhar e passar de balão sobre a minha casa,dê um grito que eu saio na janela dar-te uns tiauzinhos.
Um festival de gargalhadas emoldura a cena ,dá vida ao diálogo.
E a coisa vai tomando densidade.
-Meu Deus! O que me dizes de um calor desses? Haja “óleo Johnson” pra combater as malditas assaduras nas dobrinhas(mais gargalhadas) e o povo...
Quieto.Só observando.
-Mas ta quente demais,a continuar assim não sei o que será de nós.
Uma senhora idosa,caladinha até então,que a tudo ouvia e presenciava,entre uma ligeira crise de tosse,solta a pérola:
-Vocês não assistem televisão? Não escutam rádio? Não tem internet? Se tivessem já saberiam que “a curpa é do próprio homem.Não há de vê que uns trastes,por aí, andaram furando a tar camada de Ozório!? Por isso esse calorão dos inferno.”
Ai...Chegou o meu ônibus.Retornei meditando na cena e imaginando o "Ozório”,todo perfurado,o coitado.
Joel Gomes Teixeira