Projetos e mercados literários
Quando em meados dos anos 1970, chegou-se à conclusão de que a interpretação do leitor era realmente importante no contexto da obra literária, a ponto de que “ser lido” completaria o livro e a atividade literária, isso foi uma verdadeira mudança. Precisaríamos de uma mudança desse porte quando se fala de mercado literário, vendas de livros, editoras e livrarias.
Por que digo isso? Porque o cenário literário de vendas tem se sustentado ultimamente com best-sellers e séries estrangeiras. Se não for assim, pelo menos é o que parece, porque esses títulos sempre despontam com destaque nas prateleiras das megastores. As livrarias menores seguem a mesma linha das megastores, investindo em títulos de grandes nomes internacionais, medalhões que sempre vendem. Os novos escritores e as promessas tem que se contentar com posições subalternas dos seus livros que, muitas vezes, apenas compõem as estantes, mas não estão ali para serem vendidos realmente.
Para que essa realidade mudasse seria preciso que mudasse a cultura livreira e editorial no nosso país e no mundo. Segundo Otto Maria Carpeux, “cultura é tudo aquilo que fica quando uma pessoa já esqueceu tudo o que aprendera.” Se é verdade, podemos dizer que cultura é inerente ao nosso ser, que está além da simples acumulação de conhecimento. E, desse modo, seria a atitude de perceber que o projeto editorial de democratização da literatura, de investimento na qualidade gráfica das obras, de focar num segmento e fazê-lo o mais expressivo possível do ponto de vista da variedade desse segmento, de estímulo à leitura de e-books ou de concentração nas boas traduções de estrangeiros e de aposta nos nomes brasileiros novos, poderão apontar caminhos para uma luz no fim do túnel.
Certamente nenhuma dessas mudanças podem ser implementadas se não houver um devido apoio governamental para os editores e livreiros e se tais fatores não forem pensados a longo prazo. Também não será efetivo esse plano se não existir um fomento à formação de leitores novos com ajuda à criação de clubes de leitura e literários, à bibliotecas e centros culturais.
Recentemente a editora Cosac Naif entrou em falência, bem como a livraria Leonardo Da Vinci já havia entrado. Sinais dos tempos? Pode ser que tais malogros abram os olhos de quem forma opinião e de quem é responsável por políticas públicas relativas ao mercado editorial e livreiro no nosso país. Esperemos que tempos melhores venham e nos façam esquecer essas perdas, cujas lacunas só podem ser preenchidas com projetos – editoriais e livreiros – de envergaduras semelhantes.