Pequenas histórias 121
Ele liga o computador
Ele liga o computador todos os dias. A sua frente brilha a telinha hipnótica branqueando a mente sem dizer nada, melhor sem conseguir escrever. A sua volta papéis e mais papéis em forma de documentos, processos, pastas, dicionários, livros, revistas e outros utensílios que são necessários no decorrer do dia. Canetas, clipes, elásticos, grampeador, tesoura, telefone, calendário indicando o tempo traiçoeiro, tudo consta no argumento provando a existência da sua vida.
Todos os dias liga o computador na intenção de escrever palavras que possam fornecer algo de interessante, de poesia, de humor principalmente, pois o mundo precisa de mais risadas do que tragédia precisa mais de amor do que desamor, de mais solidariedade do que individualidade, de mais música do que de lágrimas derramadas poeticamente dentro de esquemas e regras.
Brilha todos os dias a telinha branca como sua mente branca brilha opaca no cinzento inconsciente caçando palavras, caçando ideias, conhecimento, animo e outras tranqueiras abstratas para que abstratamente impinja no papel, quer dizer, impinja na telinha nojenta um pouco de literatura sem ser intelectual, pois intelectual é um saco para aturar, imagina intelectual convencido de que é realmente intelectual!
E os dedos ágeis pressionam as teclas pretas impingindo caracteres, cenas realísticas ou irreais, dentro da surrealidade a percorrer contornos inexatos de cada personagem.
Sou um personagem de uma história criada por uma mente sem criatividade, que não me deixa fazer o que me interessa. Estou preso a esse escritor medíocre. Preso enquanto o sol resplandece no meio dia da sua vida ainda por terminar. Lambem de luz os prédios humanos, corredores escondidos da alma que rebenta em dilemas nem sempre resolvidos. Se resolvidos fica variavelmente resíduos incrustados no segmento do futuro alterando um curso de sucesso.
E seu curso iconográfico foi várias vezes distorcidas em prejuízo da história que sua vida desenvolvia, por culpa própria. Não olha para o passado com sentimento nostálgico. Olha como uma maneira de descobrir um fato ou mesmo um processo de eliminar o feito e, assim, retroceder refazendo toda a história. Ah! Romantismo aventureiro! A época romântica não cabe na vida de hoje. O que impera é a realidade crua e nua da vida consumista e cruel onde os privilegiados, donos do poder subjugam a ralé crápula conformista, às vezes, ou por malandragem tirando com isso proveito próprio.
As palavras não têm o mesmo poder da música, ela é fraca para o que quer. Alcança somente a elite acostumada com seu prosear pomposo, ridículo e insano num tresloucar sem dizer coisa com coisa. A música não necessita de leitura, basta um bom par de ouvidos para ser, não entendida, mas sentida, pois a música é para se sentir e, não entendida.
Mas, isso é outra história...
pastorelli