Memórias de uma barata octogenária III
Lembro quando papai nos ensinou a voar.
Ele dizia:
- Quando uma barata voa não é para encantar como uma borboleta ou para caçar como os pássaros. O voo da barata só tem o objetivo de assustar.
Lembro que sonhava voando com minhas amigas borboletas ou lutando contra meus predadores voadores. Era apenas sonho, jamais tive uma amiga borboleta e meu voo nem se compara aos voos dos pássaros.
Tinha um menino que cantava para uma amiga, chamada Leila, que tinha pavor de baratas voadoras. Papai era muito sábio. Descobri na prática que quando voamos somos mais monstruosas, causamos pavor, uma estratégia contra nossos predadores humanos.
Enfim, aprendi que nosso voo não tem beleza e nem destreza, mas apenas um último recurso para continuarmos vivas.