E a vida segue empilhando os anos
E a vida segue empilhando os anos, como os prédios que cobrem os céus. Segue retilínea, como os cabos que cortam as copas das árvores. Segue vazia, como os copos dos borrachos. Segue triste, como os olhos dos moribundos sem teto. Segue uniforme, como os carros que vagueiam as estradas. Segue solitária, como os amantes separados, como os cidadãos egoístas, como os amigos distantes, como os pais brigados. E a vida segue empilhando os anos, como quem não se importa, como quem não espera, como quem não lembra mais, como quem já se esqueceu. E a vida segue empilhando os anos, como o tempo empilha os dias. E a vida segue empilhando os anos, como o relógio empilha as horas. Como o burguês empilha as notas e o povo empilha a fome, como a poeira se empilha nos cantos da casa. E a vida segue empilhando os anos, como a morte empilha as almas. E a vida segue empilhando os anos, como os prédios que cobrem os céus.