CHALAÇA
CHALAÇA
Francisco Gomes da Silva, seu nome. Foi uma das figuras proeminentes da Corte brasileira, durante grande parte do séc. XVIII. Culto, todavia, de caráter não muito digno, foi confidente de D. Pedro I, e seu parceiro de farras e andanças noturnas. Servia de ponte entre o Imperador e Maria Domitila de Castro, a Marquesa de Santos.
Entretanto, não é dele que vou falar. Vou falar de Enilson Balderi. Sim, do Chalaça, mas, o nosso Chalaça, de Santo André. Filho de família tradicional da cidade, cujo avô Augusto foi proprietário de um dos primeiros restaurantes daqui, o famoso Balderi. Aquele, da rua Senador Flaquer, defronte ao Cine Carlos Gomes. Que, como ele próprio diz, não tinha portas. Não precisava, não se falava em assaltos, arrastões, ou coisa que o valha.
O nosso Chalaça, aos 59 anos, é uma pessoa simples, que gosta de falar, de contar histórias de Santo André. Fumante inveterado, herdou o apelido do personagem de sua primeira peça O Planeta dos Palhaços. O Palhaço Chalaça. Muito conhecido, desde 1996 é dono de uma banca, dessas idênticas à de jornais, existente há mais de 39 anos, que se situa na calçada defronte ao Primeiro de Maio Futebol Clube. O que ele vende? Discos antigos de vinil! A grande maioria LP. É a Chalaça Discos. Atividade que bem demonstra, de certo modo, seu gosto pelas artes. Apesar de jornalista formado, pouco trabalhou na profissão. Desde a mocidade, se embrenhou nas lides teatrais, participando de grupos da arte dramática, e se apresentando nos mais diversos palcos, tanto da região, como na Capital, e em outras cidades. Numa época, segundo ele diz, em que ser ator de teatro, não era muito bem visto. A família detestava.
Como conta, certa ocasião, em Nancy, França, num festival de teatro conheceu um ator português, de sobrenome Maduro, e da conversa, ficou sabendo que o mesmo pertencera a um grupo de teatro mambembe, em Portugal. E, cuja família tinha certo parentesco com o nosso então Ministro da Educação Jarbas Passarinho. Após sua volta ao país, foi visitado pelo colega lusitano, tendo este ido a Brasília para uma entrevista com o Ministro. Daí, surgiu a ideia de ser criado aqui, o primeiro grupo de teatro mambembe, do qual Chalaça se orgulha de ter sido um dos pioneiros, e a ele pertencido. Fizeram uma tournée pelo Brasil inteiro, patrocinado pelo MEC.
Durante o tempo em que conversei com o Chalaça, nada mais do que meia hora, inúmeras pessoas passaram pela banca, todas, de algum modo, se comunicando com ele. Figura muito conhecida.
Uma historinha contada por ele?
No restaurante de seu avô, havia em anexo, uma concorrida cancha de bocha. Certo dia, o conhecido andreense, Antonio Chiarelli, chegou aflito ao local e implorou ao velho Balderi, que lhe arrumasse um coco, pois sua mulher, grávida, queria porque queria, comer a fruta. O velho virou as costas, voltando em seguida, com um saco de açúcar de 5kg, daqueles antigos, contendo duas unidades. Bem amarradinho. O Chiarelli foi e pouco tempo depois retornou, revoltado, pois havia levado para casa, ao invés do coco, duas bolas de bochas!
Maledetto!