Memórias de uma barata octogenária I
Nasci em 1935. E a primeira edição de "A metamorfose" é de 1915.
Tenho oitenta anos e lembro como hoje quando me escondi atrás de um livro de capa dura de Kafka. Tive que esperar anoitecer e a família dormir para voltar para casa. Acabei lendo a história do homem-inseto. Jamais soubera que um homem virara inseto.
Desde esse dia, Kafka virou meu herói.
Nem mesmo as Escrituras têm uma mísera linha sobre nós, mas as aves sempre são retratadas como símbolo da paz, da liberdade, da graça divina. Essas aves malditas que nos aterrorizam com seus voos e apetite cruel.
No entanto, tenho a minha escritura sagrada, "A metamorfose" e um profeta, Kafka.