SÍMBOLOS. CONSCIÊNCIA. LIBERDADE E OBRIGAÇÃO.

Me escreveu ontem a iluminada amiga Lúcia Constantino, notável poeta, de sutilezas incomuns, dizendo do quanto seria bom que as virtudes como a misericórdia aflorassem sem necessidades de registros maiores, festas, eventos, reiteração de tradições, como a abertura das “Portas Santas”.

Falou de seu mais íntimo rincão interior, rico e poderoso como adjetivei em comentário, nossa poeta insígne, sobre a espontaneidade que deveria, é condicional, surgir sem maiores apontamentos ou indicações aos humanos.

Uma verdade verdadeira, sem necessidade de retoques, mas não é assim que ocorre, infelizmente, somos faltos de espontaneidade, vastidão e publicidade de registros do que prestou no mundo, e por isso são lembrados os eventos marcantes. Mesmo no dia a dia somos devedores de nossas condutas.

O ato de ir à missa dominical seria uma obrigação dos católicos. Sempre é lembrado como indispensável. Para mim obrigação é o que decorre da obediência ao que traz dano ou prejuízo a terceiros. Obrigação formal, nascida da lei coercitiva. Fora desse quadro mata-se a liberdade, maior bem humano. Se computado como pecado o “não ir à missa”, torna a feição da obrigação mais remota como obrigatoriedade, pecado é o que mora em nossa consciência.

Fui educado em Colégios Salesianos, colégio de padres. A missa era obrigatória aos domingos, quem não fosse e deixasse de carimbar presença na caderneta não entrava em aula na segunda-feira, pasme-se.

Que fizeram os alunos mais reacionários, como eu? Um carimbo idêntico ao original para carimbar “presença”, carimbo para praticar falsidade, ou seja, induziram ao ato desnecessário, cometer falsidade. E sem nenhum pecado de consciência, ao contrário, vencedores os alunos “espertos” quanto à idiotice de obrigar o que não se deve obrigar, o carimbo de presença era usado na segunda-feira antes da entrada no colégio. Estava sacramentada a fraude em oposição à fraude de violar a liberdade.

Que bom seria espontaneamente todos irem à missa, SE QUISESSEM.... Eram lembrados sempre no colégio os alunos, e sancionados na desobediência se ocorrente. Não adiantou.

Interrompi o ato de ir à missa por muitos anos, longuíssimos, ultimamente, faz alguns anos, procuro ir,mas chegando antes da elevação e da comunhão. Comungo recebendo o maior milagre que se pode ver em Lanciano na Itália, a Hóstia Santa que se fez carne de tecido cardíaco como atestado por inúmeros patologistas. É o símbolo do "Corpo de Cristo", o maior personagem caminhante nesse Planeta, como seu grupo inicial simbolizado por esse nome, "Os Caminhantes". Quem quiser conhecer o fato que já declinei outras vezes procure na internet “O Milagre de Lanciano”.

Evito assistir o sermão,nada contra prédicas, ao contrário. Com tamanha audiência, se perde ocasião para expressivas mensagens, esta a razão de me ausentar.

Meu pai, homem de missa dominical sem interrupções por toda a vida, certa vez encontrou meu amigo Jorge Sader, nosso vizinho de quarteirão, famílias amicíssimas, e disse “menino, vamos à missa”, no que Jorginho assentiu e me disse, “eu hein, Dr. Panza falava era uma ordem para mim”, e foram. Me disse o Jorginho que quando ia começar o sermão papai falou, “vamos sair, isso não interessa”. E foi para fora fumar um cigarro, voltando ao acabar o sermão. Falei com ele o fato, pois insistia meu pai que eu fosse à missa, e reportando o fato ele disse, aconteceu sim.

De outra feita, Alaor, advogado e amigo comum, me disse, “não sei como seu pai, um homem daquela envergadura e orador que arrebata ouve sermão daqueles padrecos, um negócio infantilizado e repetitivo”. Falei com meu pai e ele disse, “eles estão alí como Ministros de Deus”. Quis dar exemplo, lembrar, registrar a história de “qual a razão”.

Quer dizer que ouvia as vezes e quis me passar o exemplo do registro necessário, da lembrança de apontar o que seria o comum e deveria, como disse a Lúcia, aflorar da espontaneidade que eu não tinha para ir à missa, não que me afastasse de minha crença, nunca aconteceu, bem ao contrário, sempre se fortalece cada vez mais, porém, de forma livre e consciente, sem imposição.

Assim são os simbolismos, nada obrigatório, meros registros com pompas e ornatos, sem imposições. Nossa caminhada no mundo deve ser livre, mas sempre lembrado o que se eleva, como os grandes movimentos registrados em todas as épocas, como a erradicação do escravismo formal, a Revolução Francesa, a listagem dos Direitos Humanos na Convenção da ONU, e outros, o simbolismo da tentativa de colocar grilhões no mundo livre como arquitetou o nazismo, simbolismo que figura permanentemente nos museus e nas praias do desembarque da Normandia para que todos que lá vão possam ver. De lembranças, registros, eventos e simbolismos vive a história.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 28/12/2015
Reeditado em 28/12/2015
Código do texto: T5493131
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