Natal de 61

O nosso primeiro Natal no Brasil foi muito significativo, e diferente daqueles aos quais estávamos acostumados . Faziam apenas dois meses que havíamos chegados , e podem imaginar o choque cultural, e o quanto a adaptação nos parecia difícil.

Na Espanha da minha infância, não se cultuava a imagem do Papai Noel, embora eu soubesse bem de quem se tratava, Santa Claus ou São Nicolau, era ele quem fazia os brinquedos, com os seus pequenos ajudantes, lá no Polo Norte, um lugar tão improvável que parecia pertencer apenas as histórias infantis. Para nós , eram os reis magos que traziam "los juguetes", em janeiro, e eram eles que estavam nas lojas de departamentos. Tenho até uma foto com Melchior, quando eu tinha sete anos.

Em espanhol a palavra "brincar" significa pular, está ligado a saltimbancos, e de cara a palavra "brinquedo" nos soava um pouco estranha, mas isto é só um detalhe. A árvore de Natal também não fazia parte da nossa cultura, eu nunca havia visto um pinheiro na vida, e o achei muito cheiroso e bonito. Para nós a noite do dia 24 era sim especial, a chamávamos de " noche buena", e se comemora em família, com comes e bebes, e muitas canções natalinas, que chamávamos de " Villancicos navileños", que todos cantavam com alegria.

Tudo indicava que nesse ano de 61, não teríamos coisa alguma,mas o Brasil daqueles anos era bem diferente, as pessoas se aproximavam para dar as boas vindas, e um vizinho nos deu uma árvore, outro veio com bolas coloridas, então chegou uma senhora com uma ponteira na mão e linhas prateadas, uma outra ensinou a minha mãe a fazer os enfeites e como arrumá-los, o meu pai conseguiu um panetone, que eu nunca havia provado, e o achei delicioso, então pegaram chumaços de algodão e nevaram os galhos, e assim passamos o nosso primeiro Natal tropical, e desta vez com o meu pai junto. Meu irmão e eu ganhamos um brinquedo simples mas com muito amor.

Sabemos que Jesus não nasceu em dezembro, ele veio ao mundo lá pelo mês de outubro, conforme os historiadores, pelos relatos bíblicos, mas isto não tem nenhuma importância quando se quer recebê-lo de coração aberto, e da data bem pertinho da virada do ano, e da chegada dos três reis magos , que ajudam a abrir o ano melhor, renovando esperanças , e isto é o que realmente importa. A chegada de uma vida sempre deve ser celebrada, pois renova toda uma humanidade.

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 27/12/2015
Reeditado em 12/06/2017
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