OS DESAFIOS DE CADA UM... (Reminiscências).

Nossas lembranças remontam a uma Curitiba da década de 50; cidade de pequeno porte estava com um pouco mais de 200 mil habitantes; para ser mais preciso, corria o ano de 1954; estávamos contentes por conseguir nosso primeiro emprego; na época existia uma banca de revistas, na Rua José Bonifácio, ao lado da Catedral; tínhamos então treze anos; o trabalho diário ia muito além de oito horas, nem se falava em horas extras, muito menos da obrigatoriedade do Registro da Carteira de Trabalho; nem pensávamos nisto, simplesmente tentávamos desempenhar a tarefa que nos competia; com paciência, sem queixas e lamentações. Não foi por muito tempo; hoje talvez entenda melhor, o que ocorria; o menor era uma mão de obra barata, a não permanência por um espaço de tempo maior e a rotatividade evitava problemas de ordem trabalhista, que prova poderia apresentar aquele que durante alguns meses prestara serviço?

Em vista do horário de trabalho, interrompemos a conclusão do curso primário; era norma a criança somente iniciarem o primeiro ano com sete anos, - que foi o nosso caso. – em face de algumas dificuldades de aprendizado, acabamos não o concluindo; mais tarde reiniciamos os estudos, sendo interrompidos novamente em função de irmos servir o Exército no Rio de Janeiro. (Polícia do Exército).

Nosso emprego seguinte foi numa loja bem no centro da cidade; analisando hoje era um comércio varejista e atacadista de porte médio; desde brinquedos, peças femininas, produtos de uso masculino; e diversos itens, havendo destaque para o setor de brinquedos, - Estrela, que naquele tempo era uma marca de destaque. - era forte revendedor da indústria Nadir Figueiredo, de peças de vidro.

Alem da venda de varejo, tinha alguns vendedores, que lotavam seus veículos com vários itens e visitavam várias localidades no sistema de pronta entrega; após alguns dias retornavam à empresa e faziam um acerto daquilo que fora vendido.

Havia um vendedor de certa idade, que, atendia somente Curitiba, este visitava o cliente, efetuada a venda vinha pegar a mercadoria para entregá-la; este senhor usava um veículo de marca Lincoln Continental, havia comprado do Sr. A...S...; imagino que o custo do combustível fosse bem acessível para que pudesse usar em seu trabalho este tipo de veículo.

Tínhamos algumas atribuições que ia um mais além de “serviços gerais”, todas as segundas-feiras éramos encarregados de lavar o carro do Sr. A...S..., era um De soto, Chryler - para os padrões da época, extremamente luxuoso. – no final do ano, na proximidade do Natal, era usado para entrega, pois havia um grande aumento na venda de brinquedos; certa ocasião estava voltando das entregas, quem conduzia o veículo era um jovem conhecido da família; o trecho que estávamos percorrendo, era na antiga BR116; há um longo percurso em declive antes de chegar na Rua Fagundes Varella; este jovem, resolveu “testar” o carro em sua velocidade máxima, felizmente o percurso estava praticamente deserto, acredito que veículo passou de 200 km por hora; não havia sinaleiro, o que foi, convenhamos, uma atitude irresponsável do condutor, - talvez pela idade, - fugindo as regras do bom censo...

Sua firma fornecia à antiga Minerva, naftalina, embalagens com um quilo;

Devido às proximidades das duas empresas, fazíamos à entrega num carrinho.

Uma das funções que exigiam paciência era a embalagem para pedra de isqueiro; se usava como medida um dedal, - de costura. – era colocado numa embalagem e colado.

Sr.A...S... morava numa casa na Rua Comendador Araújo, mais tarde construí uma excelente residência na Rua Vicente Machado.

Aos sábados a loja fechava ao meio dia; éramos convidados a ir a sua casa; comprava pequenas toras que já vinham cortadas, entretanto era preciso dividi-las em três ou quatro pedaços, para serem usadas no fogão a lenha; em certo momento era oferecido um prato feito como almoço; aceitávamos sem constrangimento; mas refletindo hoje naquele procedimento, demonstrava uma atitude um pouco discriminatória, com certeza para nos foi um teste de humildade; teríamos que a tudo superar, sem mágoas, sem lamentações as pequenas dificuldades que estávamos atravessando.

Duas ou três vezes por semana, íamos a um comércio de carnes na Praça Zacarias, pegar a encomenda e levá-la a sua nova residência, alto da Vicente Machado, fazíamos o percurso de bicicleta; - o transito era bem mais calma, pois havia bem poucos veículos em circulação em nossa cidade. –

O setor de telefonia surpreenderia aos jovens de hoje Sr. A... S... fazia constantes ligações para São Paulo, ocasiões havia diálogos ríspidos entre ele e a telefonista, pois as ligações somente eram completadas horas depois...Quem diria que passados alguns anos, teríamos tantos avanços nesta área; os modernos celulares com múltiplas funções e ligações instantânea para qualquer local; alguns anos atrás não passaria de mera ficção...

Desde a muito esta loja não existe mais; lá ficamos um pouco mais de um ano; onde se usava o mesmo critério do primeiro emprego. Inesperadamente, certa ocasião, reencontramos Sr. A...S... estava representado a firma de um irmão de São Paulo, que ofertava alguns produtos direcionados a farmácia; pouco falamos, apenas o lembrei que um dia trabalhara na sua empresa; nunca mais o vimos, com certeza ele como parte de sua família, já passaram para o “lado de lá.”

Hoje nos veio à mente estas lembranças que se passaram a mais de 50 anos, mas que, certamente foram vivências, experiências que contribuíram para o crescimento do nosso “nível de ser”; que tiveram uma grande valia no desenvolvimento, no sentido que o nosso próximo, - muito embora possa estar numa condição de “subordinação” - merece ser tratado com consideração e respeito, pois diante das Leis Divinas, somos todos iguais, apenas poderemos estar momentaneamente numa condição diferente, e que no momento de exercer uma situação de “superioridade”, terá o teste para que o orgulho, a vaidade e o egoísmo, não dificultem o mandatário e do subordinado, são testes de difícil superação...

Curitiba, 14 de outubro de 2009- Saul- Reminiscências. Hoje é 26 de dezembro de 2015

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Walmor Zimerman
Enviado por Walmor Zimerman em 26/12/2015
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