Desabafo

Os amigos de infância e adolescência sempre se encontram. É aquela festa misturada por risos e lágrimas. E sempre um deles diz brincando: "O tempo é mesmo uma fábrica de monstros!". Um exagero mas que já virou um bordão entre eles. é certo que alguns envelheceram mais que outros, por dentro e por fora. É uma questão de calibre dizem. E outros aduzem que isso faz parte do show da vida.

Dentre eles ahá dois, um cara e uma coroa, que nos anos dourados, há uns 50 anos, andaram querendo se acertar, mas o sujeito era muito tímido, por mais que ela desse bandeira e demonstrasse que queria namorar com ele e otras cositas mas, ele, que tamabém a deseja paca, não conseguia engrenar o caso devido a sua timidez. Por mais que os amigos ajudassem e estimulassem criando situações, o cara não conseguiu vencer a timidez.

O tempo passou. Ele casou duas vezes e enviuvou duas vezes. Ela casou uma vez, enviuvou e sossegou a periguita, teve apenas alguns casos contados nos dedos de uma só mão, nada sério.

Agora vem a parte central e mais curuiosa desta maltraçada. O cara com o tempo foi deslanchando e, resultado, hoje perdeu toda a timidez, ao passo que a coroa se tornou muito reservada e um pouco amarga. O tempo tem dessas coisas, inverte as bolas. Pois bem, certo noite todos foram a um baile da terceira idade, o coroa agora comunicativo e sem nenhuma timidez tomou todas e dançou muito. Estava radiante. Então tirou a coroa para dançar, apenas se falavam socialmente, mas sem muita intimidade, ela meio a contragosto dançou com ele, mas sem ser juntinhos, ela botou a tranca, pasmem. Mas o coroa estava com a corda toda, então ao som daquela música que antes embalou o quase namioro dos dois, "Perfume de Gardênia", ele a convidou para esticarem no seu apartamento. Ela imediatamente o lagou no meio do salão, não teve gardênaia que a segurasse, ele foi atrás, então nas duas mesas que estavam todos os amigos, já cansados de dançar, mas tomando umas Miss Verão, ela desabafou na cara dele e na presença de todos: - Quando eu era nova e estava com tudo em cima, doida por você, lhe desejando, você não conseguiu vencer a porra da timidez, mas hoje, véio e aos peidos, me canta, sem dúvida com uma cartela de Viagra no bolso. Você é um porrra, um merda, um velho ridículo. Você tá pensando que a vida é que nem no romance de Garcia Márquez, aquele encontro depois de 50 anos de Firmina e Florentino? A vida é diferente, seu porra. Ela pediu um táxi e deu o pira. Ele ficou jururu. Nunca mais se falaram. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 26/12/2015
Código do texto: T5491324
Classificação de conteúdo: seguro