A  CHAVE

 
Chave:
é muito mais que um substantivo comum e fim prático: abrir aquilo que está trancado; traz consigo uma simbologia.
É um instrumento que por ser portável  pode ser carregada comodamente. Substitui as trancas com que se fechavam o que se  queria guardado.
 
A chave traz consigo o símbolo do que se quer fechado ou aberto ainda que não materialmente existente.
O apaixonado frustrado em seu romance diz: “Fechei o meu coração e joguei a chave fora.”
Ou ainda para exprimir louvor: “Ele terminou seu curso com chave de ouro”. O que nos remete também às formas poéticas clássicas e ultrapassadas por forçar o emprego de rimas e não encerrar a essência poética em si: “O poeta concluiu o seu soneto com chave de ouro”.
 
O sem expectativa de vida gostaria de ter a chave que abriria a porta de seus horizontes.
Já os conjurados querem guardar a chave de seus segredos.
Significados conotativos, denotativos... Metáforas. Ânforas que da palavra faz surgir suas várias águas.
 
Todos nós temos as chaves de nossos enigmas que por vezes escondemos de nós mesmos ou fingimos que as perdemos.
Mas só quem esquece ou perde realmente as chaves de suas portas conhece a angústia para as acharem. Procura... procura até achar ou simplesmente chama o chaveiro para fazer cópias.
 
Eu saí por aquela porta estratégica de minha antiga biblioteca, que depois virou lugar de despejo e hoje um...
...um CLOSED – protesto em usar estrangeirismo uma vez que temos uma língua própria tão rica e de som agradável.
Ah! E a porta é estratégica porque quando chegam visitas inconvenientes é por onde eu saio e também quando quero dar minhas escapadelas sem dar explicação é por onde passo feito gato arisco.
 
Eu escapuli para ir ao cinema que fica longe de onde moro – adoro as caminhadas noturnas que alimentam meu lado felino. O horário era tarde para  ir a pé.  Eu fugi, confesso, para meu filho não ficar ralhando como se eu fosse um adolescente dizendo: “A cidade mudou! Não é mais como na época de quando você era jovem. A sociedade está violenta!”
 
Eu saí às escondidas e coloquei a chave no bolso da camisa que eu usava por cima de uma regata.
Na volta a noite estava quente e a caminhada fez-me sentir calor. Tirei a camisa que veio dançando no ritmo quaternário em meu corpo: mão direita, ombro esquerdo, mão esquerda, ombro direito.
 
Quando cheguei a minha casa a chave não estava mais no bolso. Deve ter ficado tonta com o compasso da marcha e em alguma esquina  tropeçou e caiu.
E eu tive que ouvir sermão de meu filho que teve que abrir a porta.
 
A passagem estratégica de fugidas e vindas permaneceu trancada por dias por minha preguiça de contatar um chaveiro e por pirraça de meu filho que queria me dar uma lição – filho quando cresce passa achar que é pai da gente!
Lembrei-me depois que eu tinha uma chave reserva em uma mochila – a vida é cheia de estratégias!!!
Eu a encontrei.  Encontrei e fiz cópias que distribuí por pontos geopolíticos da residência. Conviver é assunto diplomático quando não se quer prestar obediências e desculpas.
E foi aí que eu senti a importância da chave: Como é bom ter o domínio próprio de abrir e fechar, fugir e voltar quando se sente o desejo de artimanhas.
 

Que tudo aquilo que foi inconveniente fique trancado no passado!
 
 
 
Que o novo
traga as chaves de todo bem estar!




Leonardo Lisbôa
Barbacena, 13/11/2015.
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Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 25/12/2015
Reeditado em 25/12/2015
Código do texto: T5490750
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