MEU MUNDO É DIFERENTE
Aclibes Burgarelli
CRÔNICA DA VIDA
 
Meu mundo é diferente. Percebi, finalmente, a oportunidade de viver  sozinho, porém acompanhado; sem estar acometido de solidão.
 
Ao dizer “sozinho”, não digo ausente da família ou de pessoas, mesmo porque não me falta  oportunidade de convivência intensa nos lugares que frequento; digo sozinho no sentido de ter consciência acerca da irrelevância de influências externas, no meu modo de pensar.
 
Sempre busquei conhecer meu EU e nessa caminhada, tranquila, deparei-me, certa feita, com a observação acerca da solidão, no sentido de que se trata de um estado emocional de insatisfação, sem causa definida, a perturbar o dia a dia do viver. 
 
De outra parte, encontrei também a ponderada afirmação de que viver sozinho  é uma opção pessoal,  que tem por base várias situações, dentre as quais uma destas é abraçada por livre e espontânea vontade, tendo em conta um objetivo determinado. No meu caso, encontrar o caminho certo para os fatos da minha vida humana.
 
Aprendi que para se encontrar o caminho certo é necessário que não se esteja sujeito a interferências vãs: de como agir, de como escolher ou de como pensar; afinal se trata de um caminho só meu, sem espaço livre para a caminhada de outrem.
 
Não estou absolutamente em estado de solidão, visto que, neste estado emocional, há necessidade de ajuda profissional, de apoio das pessoas mais próximas quanto ao recalque que o tenha provocado e o transformou em enfermidade mental.  No estar só, desnecessárias e até mesmo inadequadas essas participações ou interferências de terceiros.
 
Levando em consideração os fatores de cada situação (do viver sozinho e da solidão), esbocei, livremente, sem interferência, a seguinte situação: Experimentar viver sozinho, porém acompanhado.
 
Perceba que no desejo arquitetado há uma aparente contradição. Digo aparente, porque suponho que alguém faça a leitura do que escrevo e não entenda a profundidade do que se cogita.
 
Em primeiro lugar, viver sozinho não significa, absolutamente, estar desacompanhado de alguém; a não ser que se tome por verdade que companhia é sempre de seres vivos ou de pessoas humanas, encarnadas.  
 
Ao depois, posso estar acompanhado, no meu viver, sem que outras pessoas, no viver delas, percebam a realidade; por conseguinte, para mim eu estou acompanhado; para elas, eu estou desacompanhado. Portanto é um dado relativo e, sempre que a relatividade estiver presente, não se pode fazer afirmação absoluta.
 
À guisa de um excelente exemplo histórico antigo, anterior mesmo a Jesus, tome-se a pessoa de Sócrates, magnífica pessoa humana; uma pessoa que viveu só, entretanto bem acompanhada de seu Deus interior, com quem conversava intensamente ao longo dos setenta anos de vida.
 
Até hoje se afirma que Sócrates fora uma pessoa enigmática, porém fundador da filosofia ocidental. Aqui sim há uma contradição, porquanto Sócrates nada ensinou; ao contrário sempre aprendeu e para tanto, usou de um método: saber perguntar para conseguir aprender. Perguntas eram formuladas com auxílio de seu Deus interior; contudo, diante de todos parecia que estava a perguntar sozinho, por ele próprio.
 
Não encontrei, nas minhas buscas, relato que apontasse esse item tão singelo: Sócrates vivia sozinho, porém acompanhado.
 
Muitos e muitos outros vultos significativos viveram sozinhos, mas acompanhados; no entanto, por ora, entendo suficiente tomar como base de exemplo a figura de Sócrates e, como não podia deixar de ser, também trazer à luz do conhecimento a pessoa Divina de Jesus o qual, tal como Sócrates, nada escreveu.
 
Os relatos acerca de Sócrates restaram ao discípulo Platão e, ao depois, a Aristóteles. Os relatos de Jesus tiveram a participação dos Apóstolos: alguns permaneceram  junto ao Mestre; outros seguiram suas palavras.
 
Todos os relatos sobre a Missão Divina de Jesus, no curto espaço de filho do homem, apontam que o Mestre, sozinho, sempre esteve acompanhado do Pai. Esteve acompanhado nas palavras, nas ações, nos gestos e até mesmo no momento derradeiro do Calvário, de onde rogou Perdão aos ignorantes, isto é aos que não sabiam o que estavam fazendo.
 
Aceitem ou não meu relato, pouco importa eventual crítica de quem quer que seja, em que pese todo e profundo respeito, admiração e curvatura à autoridade de certas pessoas; entretanto, conforme eu disse, encontrei o caminho para viver sozinho, mas bem acompanhado.
 
Sem importância qualquer identificação de quem me acompanha, porque o beneficiário da companhia sou eu e, nesta fase de minha vida, na qual encontrei o caminho certo para trilhar, isso é o que importa. A verdade é que, agora, estou sozinho mas muito bem acompanhado. Vamos em frente.
 
Fica, no entanto o relato, para quem quiser tentar entender, criticar, deixar de ler, pensar no assunto; afinal, para mim, pouco importa, com o mais profundo respeito.
 

 
aclibes
Enviado por aclibes em 25/12/2015
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