Fidelidade? Nem Sempre
Fim de noite num domingo qualquer quando meu celular toca. É o meu aluno, André, querendo saber como é a tradução de:
"NADA ME FALTARÁ."
Penso um pouco porque a arte de traduzir não é usar o Google Translator mas, sim o cérebro e a criatividade.
Mas, se tratando de uma frase bíblica, melhor não viajar na maionese e traduzir ao pé da letra.
Respondo:
"Nothing shall I lack."
O André não parece gostar pois demora para se manifestar mas, após um minuto ouço: "Hummm ... Eu fiz assim: 'I will lack nothing.' Pra ser franco, gostei nada da minha tradução e nem da sua, Teacher."
Perguntei a razão por ele querer saber a tradução e o André me conta que a mãe queria fazer uma tatuagem e depois de matutar um bocado, chegou nesta frase bíblica - NADA ME FALTARÁ.
Quando o assunto é mãe, eu sempre busco ajudar ao máximo´. Fui dar uma olhada na minha bíblia e achei a seguinte frase:
I SHALL NOT WANT.
Como eu fique indignada! I shall not want, traduzido ao pé da letra, quer dizer: Eu não quererei.
Repassei a frase bíblica em inglês para o André que soltou aquela gargalhada dizendo, "Piorou, né Teacher! Vou dizer pra mãe esquecer a frase em inglês. Melhor em português."
Concordei 100% com ele e ainda acrescentei:
"Imagine o que sua mãe teria que ouvir toda vez que alguém que sabe inglês lesse a tatuagem dela. Gracejos como: What won´t you want? (O que você não vai querer?" Não aguentei e também gargalhei.
A conclusão na qual cheguei: Quem fez a tradução em português estava inspirado no dia que fez esta bela 'versão'. Agora, quem fez a tradução para o inglês foi bem Shakespeareano.
Quantos outros trechos bíblicos são 'interpretados' diferentemente? Mais espiritualmente ou mais gramaticalmente? Como traduzir? Como versejar? Oh my God! Como proceder!? Talvez Caetanear?
É, faz a gente pensar em quanta exatidão, e verdade, existe numa tradução.
Mais um exemplo e prometo, o último.
No início de 2013, adquiri um livro cujo titulo é: 'As Mulheres Lideram Melhor Que Homens'. Por algum motivo ou outro, o livro foi parar na estante do meu quarto entre os demais que já havia lido mas, durante uma arrumação reparei na capa e não lembrava daquele livro. Como estou de férias e tô de boa, resolvi dar aquela olhada.
Depois de dar um 'browse' em alguns capítulos, reparei que o titulo não estava refletindo tanta competividade assim. São mais experiências, estratégias, dicas e exemplos de liderança. A autora, Lois P. Frankel, é estadounidense e na terra do Tio Sam, a mulher geralmente esconde o jogo do homem, o seu maior rival, principalmente quando se trata de business. Procurei o titulo original da obra e achei: SEE JANE LEAD.
A tradução ao pé da letra: Veja A Jane Liderar.
Já imaginou se a editora tivesse traduzido o titulo ao pé da letra? As brasileiras comprariam o livro e pasmem! Não tem Jane no livro! Como não tem Jane!?
Por que Jane é um nome bem comum nos EUA, e também na Inglaterra, onde a leitura não é apenas apreciada mas também onde o livro deixa de ser um livro qualquer para se tornar um 'Best Seller' no mundo inteiro.
Jane seria um 'gimmick' para atrair um grande número de leitoras. Assim como 'The Smiths', do Morrisey, que batizou a banda com este nome para atrair uma legião de fás já que este sobrenome inglês é o mais comum, ou pop, na Grã Bretanha e também nos EUA. Smith seria equivalente ao nosso Silva. Mas, o quê é bom para um nem sempre serve para os demais. Já viu banda com nome 'Silva' no Brasil? Nem de forró.
Ou talvez a razão seja outra. Jane é um dos primeiros nomes que uma criança estadounidense no 'kindergarten' aprende a ler e escrever aos 5 anos. O primeiro livro de leitura tem um personagem de nome Jane e quando o nome vem à tona, há aquela lembrança boa e inocente das primeiras leituras. As meninas recordam com saudades mas também lembram como a Jane vivia sempre em segundo plano, enquanto seu irmão Dick e o fiel cão Spot eram mais livres para se divertirem. Agora, a Jane dá o troco no Dick! See Jane lead!
Hummmmm ... Aposto que se lembrou do filme, "Dick and Jane", né?