RELÍQUIA
RELÍQUIA
É religar algo de concreto com o abstrato da lembrança.
Quando vejo algo que me reporta ao passado estou diante de uma relíquia.
Relíquia é algo raro que me é muito caro porque sua raridade me leva a preciosidade que tem seu preço intrínseco.
A lembrança me reporta ao passado em tempo, espaço e objeto. Cujo objeto é o relicário que venero, quer seja pelo seu valor ou pela casualidade que me traz lembrança.
Quando me deparo com as coisas dos meus avos, vêm a sua lembrança do velho bondoso que saciava as minhas vontades. São coisas pessoais, utensílios domésticos, objetos decorativos da sua casa, em fim, coisa comuns aos olhos dos estranhos, tão especiais para minha lembrança que se tornam verdadeiras relíquias impagáveis pelo preço da recordação.
Convivo com muitas que marcaram sua vida, como é o caso do relógio de parede da sala, os móveis estofados e tapete da sala-de-visita, com seus lustres.
Para aqueles que não o conheceram, uma foto marcando sua eterna presença, deixa a todos familiarizados.
Mas se não bastarem às coisas presentes, meu sobrenome traz a sua lembrança do homem que foi na trajetória de sua vida. Desde os idos tempos de menino à época da escravatura e do Império, até seus dias do óbito, quando herdei suas coisas tão familiares da minha infância querida, dos anos que não voltam mais.
São Paulo, 24 de Dezembro de 2015.
José Francisco Ferraz Luz