O NATAL COMEMORADO NA PORTA LARGA DOS DESENTENDIMENTOS FAMILIARES.
Aclibes Burgarelli 
 

 O desentendimento, a respeito de certos fatos e ideias, acontece entre encarnados; entre desencarnados; entre encarnados e desencarnados e, finalmente, entre  desencarnados e encarnados.  Em linguagem  técnico-jurídica,  o desentendimento provoca lide, a qual se caracteriza por um conflito de interesses, por causa de uma pretensão comum resistida.


Sem alongamento ou preocupação exagerada  acerca do caráter técnico ou fenomênico do “desentendimento”, sentimento em cuja natureza se encontra um componente de natureza perispiritual, mesmo porque o que importa é destacar que desentendimentos são frequentíssimos, entre as pessoas, no curso da vida humana (e até mesmo além vida humana), entendem-se oportunas algumas reflexões, a respeito de um caso concreto: desentendimento no seio familiar nas festas natalinas.
 
Imagine um ambiente familiar, marido e mulher, em clima de equilíbrio, em dado momento, da convivência, por exemplo, à mesa para um café da manhã, como início do dia, em cuja noite realizar-se-á a denominada “Ceia de Natal”, com o exagero de muita comida e bebida. Conversa vai, conversa vem, até que um dos cônjuges, não importa qual, inadvertidamente pronuncia breve palavra. Não importa qual  ou mesmo o sentido da palavra, mas o tamanho da porta espiritual que naquele momento em que a palavra fora proferida, estava aberta.
 
É evidente que a breve palavra não se apresentara como tal, apenas breve palavra, mas veio sob a forma de estopim aceso diante de porta  espiritual larga.
 
No caso do exemplo em questão, como foi dito, a porta que estava aberta era larga e permitira a passagem indiscriminada de fragmentos da explosão e de uma infinidade de situações, dentre as quais, situações de desentendimento que  aquela palavrinha levou de roldão, porta adentro. Tudo o que não devia ter entrado entrou por descuido; afinal, a porta era larga.
 
Uma vez que o desequilíbrio do marido e da mulher também foram levados, porta adentro, sem que percebessem, diante do engarrafamento do trânsito, a consequência foi o fato de que,  com eles, também entraram pela porta os defeitos comuns não vigiados. 
 
O marido e a mulher, vice versa viram, ele nos olhos dela e ela nos olhos dele, “ciscos”, os quais, conforme visão e julgamento de cada um, acusavam defeitos causadores do desentendimento. O marido atribuía à mulher a existência do “cisco”, como causa do desentendimento. A mulher, de igual maneira, via, como causa de tudo, a existência do “cisco” nos olhos do marido.  
 
Formada essa relação recíproca de julgamentos, tanto  um quanto o outro, permaneceram cegos a uma verdade contundente: O marido não enxergara a trave existente em seu olho; igualmente, a mesma situação acontecera com a mulher.   
 
O café da manhã fora abruptamente interrompido e o desentendimento se agravou; ofensas, impropérios e ódio vieram à baila e cada um dos intérpretes tratou de se afastar e cuidar de seus afazeres como forma de superação da crise.
 
                                                         **************** 
 
Retratou-se aqui o cenário e a participação, em cena, de uma peça da vida das pessoas, frequentemente representada no dia a dia do teatro humano. As personagens, do caso concreto, foram, por acaso, marido e mulher, mas nada exclui a participação de muitas e muitas outras personagens na peça comum, ora exemplificada.
 
A mulher continuou seus afazeres, sem preocupação, uma vez que já formara na sua consciência a ideia de que outro não era seu destino e nada podia fazer, senão esperar o tempo passar. O marido, tomado de tristeza consciente e preocupação a respeito, buscou ajuda solitária, porém convicto de que o Mestre Jesus não dissera em vão tudo o que foi ensinado, no curto período em que marcou sua presença física. Curto período físico, mas implantação de palavras eternas, para todos os tempos e não somente para sua época.  Na época atual, com uso de palavras atuais, é verdadeira a afirmação seguinte: Para aproximação, ou presença Divina, faça uso da senha que foi legada à humanidade; senha essa que, na época de Jesus, recebia o nome de parábola: procura e acharás; bata e a porta se abrirá; peça e receberás.
 
O marido, fechado em si próprio, em lugar tranquilo e distante de tudo, refletiu e perguntou a si próprio: Vou procurar; mas aonde?
 
Horas se passaram. Reflexão intensa sob o som de música relaxante, em baixo volume; estado alfa da mente e consequente relaxamento até que uma voz inaudível, porém sentida (sim, voz inaudível biologicamente, mas sentida espiritualmente), corporificou esta mensagem: - Procure através da porta estreita!.
 
- É verdade, refletiu o marido, porque não pensei nisso antes? 
- Se há uma porta larga, por onde seguem todas as situações, dentre as quais as        turbulentas, porque não bater à porta estreita?
- Deve existir uma diferença explicativa!
 
Apesar da luz recebida, naquele momento especial de reflexão, algo ficou pendente, à guisa de dúvida:
 
 O que e quem também poderá seguir pela porta estreita?
 
Mantido o estado mental reflexivo e, agora bastante desprendido dos estímulos do ambiente, nova mensagem propagou-se por ondas mentais da espiritualidade:
 
- A porta estreita o é, porque é individual!
 
Esclarecida a dúvida ficou acertado, no íntimo do marido, que ele, e somente ele, como indivíduo, haveria de ser considerado diante da porta estreita, visto que é essencialmente individual; e ninguém mais.
 
Estabelecido o propósito natural, entendeu que a preocupação com “cisco” no olho de sua mulher, na verdade, era algo sem importância, diante da “trave” existente nos seus próprios olhos e, por ele, desconhecida.  Em assim sendo, diante da porta estreita, reservada somente para ele – e por isso estreita -, qualquer tentativa de acesso, para falar com Deus, estava condicionada à remoção da trave que deformara sua visão limpa.  
 
Já bem próximo da retomada ao estado mental comum, da consciência humana, o marido ouviu a derradeira mensagem do plano Superior e, de pronto, lembrou-se dos três macaquinhos sábios e amensagem simbólica:  “não vejo”,  “não ouço” e “não falo”.
 
                                                       
 
Diante dessa lembrança entendeu o significado bíblico da afirmação: “Não deiteis aos porcos vossas perolas”.
 
A data natalícia e comemorada, com bastante exagero, em apenas um dia do ano. Exageradamente porque passa a impressão de que existe amor pleno na família, entre as pessoas do grupo social, entre a população de um país e entre toda a humanidade.
 
Exagera-se na propaganda do pseudo amor, da pseudo estima, da pseuda fraternidade, porém é tudo mentira. Não se está a exagerar na afirmação, porque esta vem da realidade em que se vive. Se não se aceita a afirmação, responda-se o seguinte:  E o restante do ano, 364 dias ou 365 no ano bissexto?
 
Cada qual responderá a si próprio quantas vezes recebeu, durante todo o ano, a solidariedade exibida, com pompa, no dia de Natal. Feita essa experiência perceberá o sentido bíblico da porta larga e da porta estreita.
 
Diante de tudo, por este artigo, esforça-se a aplicar esta senha: Feliz 365 dias do ano de Nosso Senhor Jesus Cristo, ao qual chegaremos pela porta estreita.
aclibes
Enviado por aclibes em 24/12/2015
Código do texto: T5490020
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.