O DEDILHAR DA TESOURA
Cortávamos o cabelo nas sextas-feiras e só saiamos se passássemos na revista. De 15 em 15 dias o comandante também cortava, ele uma cabeleira cheia, nós um cadetão de brilhar o couro. Quando ele estava na barbearia nós esperávamos na fila do lado de fora, e as outras duas cadeiras ficavam paradas. Pelas frestas das basculantes observávamos o barbeiro puxa-saco dedilhando a tesoura, em 10 minutos o serviço estava pronto, mas ele ficava dedilhando a tesoura por mais um tempão, assim produzindo uma sinfonia egoísta, só ouvida por ambos, ele e o comandante. Talvez hoje eu aplaudisse, para que o barbeiro voltasse, como nos concertos de música erudita e assim ele permanecesse por mais meia hora sob o som do dedilhar da tesoura.
Acreditávamos que o nosso corte fosse marcado nas as sextas-feiras, para que nos finais de semana nossas cabeças contrastassem nas festas com as cabeleiras avantajadas dos anos setenta.