O martírio de
                      Joana Angélica



      A Bahia não é somente a terra de rainhas do Axé. A Bahia, para quem ainda não sabe, é também a terra de santas e  heroínas. Uma heroína? a franciscana Joana Angélica de Jesus.
          Antes do grito de D. Pedro, declarando o Brasil livre de Portugal, pela mesma causa, morria, na Bahia, Madre Joana Angélica. 
          Antes do grito pacífico, no riacho do Ipiranga, em Sampa,  em Salvador acontecia a tragédia do Convento da Lapa. 

          O grito de D. Pedro foi ouvido no dia 7 de setembro de 1822; o grito dorido da irmã Angélica ecoou no dia 19 de fevereiro do mesmo ano. Portanto, alguns meses antes do "Independência ou morte!"
          Como tudo ocorreu. Alcoolizados, os soldados portugueses, diz Afrânio Peixoto, "em tropelias pelas ruas", decidiram invadir, na raça, o Convento da Lapa, na capital baiana, e violar o seu claustro.  Achavam, que nas celas do mosteiro estavam escondidos cidadãos que, para eles, não passavam de "revoltosos".
          Encontraram, porém, pela frente, a impedir-lhes o ousado avanço, a valorosa abadessa do franciscano mosteiro. Ao enfrentá-los, sóror Angélica teria bradado: " Para trás, bandidos! Respeitai  a Casa de Deus! Antes de conseguirdes  os vossos infames desígnios, passareis sobre meu cadáver."
          A abadessa teve, imediatamente,  seu peito trespassado pelas baionetas assassinas da tropa lusitana, morrendo, horas depois, "vítima do seu dever; mártir de sua fé", arremata o escritor Afrânio Peixoto, no seu formidável Livro de Horas.
          Madre Joana Angélica foi, portanto, a primeira mártir da independência do Brasil. E  hoje, dia da Independência da Bahia,  ela é a minha homenageada.
          Logo mais, os baianos estarão nas ruas, festejando o "Dois de Julho", sua maior festa cívica.
          A Independência do Brasil fora proclamada no dia 7 de setembro de 1822. Mas a soberania definitiva da nação brasileira  só foi consolidada em julho de 1823, com  a expulsão, pelos baianos, das tropas portuguesas que teimavam em permanecer no território nacional.
          Há 184 anos, o Estado comemora, ao som de fanfarras, bandas de música, e de entusiasmados discursos,  a Independência da Bahia. É a festa dos heróis e heroínas baianos, que tiveram participação destacada nas batalhas pela libertação da província.
          Entre esses heróis e heroínas, além de Joana Angélica, estão Maria Quitéria de Jesus Medeiros e os nativos, a maioria indígenas.
      No desfile, os nativos são representados pelas estátuas de uma cabocla e de um caboclo, em cima de carros patrioticamente enfeitados,  empurrrados pelo povo durante o trajeto.  
      A cabocla e o caboclo são, sem dúvida, a principal atração do ruidoso cortejo cívico, que já começou.

          O desfile nasce no largo da Lapinha e segue até a Praça do Campo Grande onde foi erguido, há décadas, o belo monumento ao Dois de Julho.
      No pé do monumento, vigiado por soldados das Forças Armadas, falam entusiasmados oradores exaltando a data; a exemplo do que fizera, no seu tempo, o poeta Castro Alves, em poema inteligente e cheio de ufanismo.

          Oh! Bahia, de tantas e tão belas histórias!!!!!!
          Histórias de candomblé; de famosos e lindos orixás; do sincretismo religioso; histórias de santas: madre Vitória da Encarnação e irmã Dulce.  E de suas heroínas: Maria Quitéria, a enfermeira Ana Neri e Joana Angélica . 
      Sem esquecer a história de Catarina Paraguaçu, o terno amor do português Diogo Álvares Correia, o Caramuru, contado por frei José de Santa Rita Durão, em aplaudidos versos.




      

     

 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 02/07/2007
Reeditado em 17/10/2020
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