NÓS SOMOS O NATAL.
NÓS SOMOS O NATAL
Gama Gantois
Afinal o que é Natal? O que ele representa na vida de todos nós? Quando eu era um menino, ingênuo, puro o natal para mim era o Papai Noel, o bom velhinho. Aquele que todos nós esperávamos ansiosamente pela sua chegada. Queríamos que o dia seguinte chegasse logo, mas, ele teimava em caminhar lentamente. Os ponteiros dos relógios do mundo inteiro davam a impressão que tinham parados. O Natal era o dia seguinte quando orgulhosamente exibíamos para todas as prendas recebidas. Cada criança mostrava o seu presente. Na época dos sonhos e da fantasia, o Natal se resumia nisto: Na figura do Papai Noel e do presente que ele conseguia nos dar.
Mas, o tempo, este inimigo implacável, passou rápido demais. O menino se fez homem. A ilusão, o encantamento se desfezeram qual fumaça. O sonho se transformou na dura realidade da vida.
O Natal passou a ter um novo sentido, ambos nos transformamos. Agora, o 25 de dezembro passou a ser a família reunida em volta de uma enorme mesa, onde todos, comiam, bebiam cantavam esbanjando uma enorme felicidade. Pairava no ar uma magia que ninguém sabia de onde vinha muito menos explicar o seu significado. Eu só sei que era alegria incontida que tomava conta de todos nós, onde o brinde etílico, não tinha fim.
Nessa época da minha vida, o Natal passou ser o pinheiro enfeitado com suas bolas coloridas. Os cartões de natal, sempre com dizeres piegas, mas obrigatório. O presépio armado pela nossa mãe, que não abria mãos dessa tarefa, pois somente ela sabia a posição exata dos Reis Magos. Era a estrela que brilhava no alto do pinheiro. O sino da Igreja chamando para Missa do Galo, presença obrigatória de toda a família, solenidade que eu confesso, ia meio amuado, mas, não tinha como recusar. Meu grande consolo era saber que na volta, nos aguardava uma bela ceia, com troca de presentes, com direito a beijos e abraços da nossa doce mãezinha, que sempre nos abraçava e beijava como se fosse seu último natal. Era uma noite de encantamento e magia, não posso negar tudo sob olhar amoroso do nosso pai sempre fino e ducado. Nesse momento nossa e irmã sempre sensível e chorona, num ato espontâneo, se apressava em beijar e abraçar a todos os parentes que compartilhavam da ceia, desejando um feliz Natal a todos os presentes: Feliz natal, pai. Feliz Natal mãe. Feliz Natal manos. Sim, era assim nossa irmã, meiga amorosa, amiga, companheira.
Era assim nosso Natal. Era assim, nossa casa recheada de gente esbanjando alegria. Se felicidade tivesse endereço, com certeza, o seu, era nossa casa. Foi esse o meu Natal durante muitos anos. Permanecemos imutáveis: Eu e Natal. Cheguei acreditar que o natal não muda, é eterno. Sai ano entra ano, permanece o mesmo. Mas, o tempo não para. Ele é cruel. De repente percebemos que algo mudou e nós não nos apercebemos. E quando notamos essa mudança compreendemos que a vida passou depressa demais. Que envelhecemos. Que quase tudo se acabou. Que muitos que ontem compartilhavam dessa alegria já não estão entre nós. Partiram para ocupar seu espaço num plano superior deixando eternas saudades. Os que ficaram, aqui na terra, estão lá firmes, mantendo a tradição do Natal, na certeza dos que uns vão, outros chegam, mas, o espírito do Natal permanece inalterado.
Pode crer. Apesar das desilusões da vida, dos sonhos que jamais iremos realizar, nas frustrações acumuladas, no dia mágico, lá estamos nós, a volta da mesma mesa com os mesmos risos, com a mesma esperança no coração. Mas, sentimos que aquela alegria não é mesma de outrora. Faltam a nossa juventude, nossos devaneios. Falta o olhar amoroso do nosso pai. Nossa irmã já não corre á volta da mesa abraçando a todos os presentes. Falta seu choro, os abraços e beijos da nossa mãe. Nesse momento a alegria, dá lugar a uma imensa nostalgia. Dá uma vontade danada de chorar. De voltar ao passado. De renascer. De retornar a um tempo que sabemos não volta jamais. A vida passou depressa demais. A saudade traz certa tristeza. O sorriso antes, aberto, escancarado se fecha um pouco. Sorrimos por fora, mas choramos por dentro. O Natal para nós ficou um pouco mais triste, mais saudoso, mas, a tradição tem que ser mantida custe o que custar. Por mais que busquemos o esquecimento nada conseguimos, pois, não podemos fugir das nossas lembranças porque elas estarão sempre onde quer que estejamos. A vida segue seu rumo inexorável. A festa continua a mesma, o que mudou são os personagens. A mesa enorme, a troca de presentes, o porre de alguns, mas, faltam vários pedaços de nós mesmo. Então compreendemos que o natal é muito mais do que uma grande mesa. È maior do que troca de presentes. Transcende a nossa própria razão, a nossa própria emoção, a nossa própria vida. O Natal existe para que compreendamos o que é vida. Em tudo há um forte significado.
Só então passamos a compreender que o Natal somos nós mesmos quando decidimos nascer de novo. Que somos nós quando nos renovamos a cada dia, nos transformando em seres humanos melhores. Que somos o pinheiro quando resistimos vigorosamente aos tropeços, traições, injustiças da caminhada da vida. Que somos os enfeites coloridos das bolas penduradas na árvore para mostrar que todos têm o direito de brilhar na jornada, que chamamos de vida. Que somos os sinos quando chamamos, para congregar e unir as pessoas. Que somos as luzes quando simplificamos e damos soluções iluminando a estrada daquele que caminha nas trevas. Que somos os presépios quando nos tornamos pobres para enriquecer a todos em sabedoria e amor. Que somos os anjos do natal quando cantamos ao mundo o amor e a alegria. Que somos os pastores quando enchemos corações vazios com a fé que trazemos nos nossos corações. Que somos a estrela guias conduzindo alguém ao Senhor. Que somos os Reis Magos quando damos o que temos de melhor, não importando a quem. Que somos as velas quando distribuímos harmonia por onde passamos Somos Papai Noel quando criamos lindos sonhos nas mentes infantis. Somos os presentes de natal quando somos verdadeiros amigos para todos. Somos cartões de natal quando a bondade está escrita em nossas mãos. Somos as missas do natal quando nos tomamos de louvor, oferenda e comunhão. Somos as ceias do natal quando saciamos de pão, de esperança, qualquer pobre do nosso lado. Somos as festas de natal quando nos despimos do luto e vestimos a gala. Somos sim, a Noite Feliz do Natal, quando humildemente e conscientemente, mesmo sem símbolos e aparatos, sorrimos com confiança e ternura na contemplação interior de um natal perene que estabelece seu Reino em nós. Obrigado Jesus! Por vossa luz, perdão e compreensão. Aos que me chicotearam ofereço o meu perdão. Os que me traíram, o meu amor. Os que iludiram a minha boa fé ofereço a verdade de Jesus.