MEMÓRIAS ( 12 )
Assim como a casa da Vila Comercial, entre a Av Mutinga e a Rua Banabuiu foi a casa da minha primeira infância, quando, por mais que eu fizesse algo inusitado, sempre estava em casa com um adulto por perto, a rua da segunda casa onde morei, foi a "rua da minha infância". Ela fazia uma alça, como um C, ligando-se à rua da igreja. Os dois acessos eram inclinados, mas o lugar onde eu morava ficava mais alto e era um segmento plano, de onde se descortinava o Pico do Jaraguá, em um dos seus ângulos mais belos, como um postal. O Jaraguá sempre fez parte de minhas mais belas lembranças de pores-de-sol. Muitos, vários em cores, luzes, nuvens, contrastes, em variações diárias e sempre magníficas. De sua direção (norte) vinham as referências sobre o tempo, chuva, frio, sol...
Nesse local, os terrenos eram menores, com quintais menores e jardins com terraços na parte da frente das casas. Havia também crianças em todas as famílias e transitávamos livremente entre as casas, mas era no terraço ou na rua que brincávamos. Futebol, bicicleta, corda, amarelinha, peteca, na rua; "de casinha", nos terraços, com as bonecas e todos os aparatos envolvidos, carrinhos, bercinhos, roupinhas, panelinhas, comidinhas...
Sendo uma rua tão tranquila, vinham também crianças das vizinhanças brincar ali, inclusive o toninho, que continuou a ser a minha paixão até que mudou-se e nunca mais o vi. Ali, vivi outra fase, convivendo também com os filhos de outros amigos de meus pais, da nossa idade. Nessa fase a figura de minha mãe é um pouco mais marcada porque, às vezes, fazíamos paseios durante a semana, somente com ela e as outras amigas. Às vezes íamos ao cinema e depois comíamos hot-dog nas lojas Reunidas, ou nas lojas Americanas , na Rua Direita. Mas também fomos uma vez assistir, no auditório da Rádio Nacional a "Escolinha do Nhô Totico" que costumávamos ouvir pelo rádio, e algumas vezes o "Programa Manoel da Nóbrega". Outras histórias...
A personalidade de minha mãe só se revelou claramente alguns anos depois de meu pai ter falecido. Ela era alegre, animada e conversava bem sobre qualquer assunto, de política a futebol, além de ter-se tornado uma exímia cozinheira (mas daquelas que escondem os segredinhos). - Não te contei? dizia ela quando a surpreendia usando algum que eu não sabia.Torcia para o São Paulo e sabia tudo, de placar a nomes de jogadores e, é claro, de todas as vezes em que o juiz havia "roubado".
Enquanto, porém, meu pai esteve ali, ela era a casa e ele era o mundo. Essa era uma característica de família (Hoehne).Muitos foram autodidatas, ecléticos, homens de muitas artes (ele teve um tio-avô orquidófilo, bastante conhecido, vinculado ao Butantã). Então, era muito forte para ela, que inclusive era bem mais nova.
Geralmente, brincávamos na rua à tarde. Ali havia a igreja perto e os sinos badalavam às seis horas. Foi nesse período que comecei, diante já de uma noção mais clara a meu respeito como indivíduo, a sentir a tristeza, a angústia, algo como uma dor no coração, uma vontade de chorar que me atingia quando o sol se punha, as estrelas começavam a surgir, o poente era de um colorido profundo e os sinos marcavam as horas.
Assim como a casa da Vila Comercial, entre a Av Mutinga e a Rua Banabuiu foi a casa da minha primeira infância, quando, por mais que eu fizesse algo inusitado, sempre estava em casa com um adulto por perto, a rua da segunda casa onde morei, foi a "rua da minha infância". Ela fazia uma alça, como um C, ligando-se à rua da igreja. Os dois acessos eram inclinados, mas o lugar onde eu morava ficava mais alto e era um segmento plano, de onde se descortinava o Pico do Jaraguá, em um dos seus ângulos mais belos, como um postal. O Jaraguá sempre fez parte de minhas mais belas lembranças de pores-de-sol. Muitos, vários em cores, luzes, nuvens, contrastes, em variações diárias e sempre magníficas. De sua direção (norte) vinham as referências sobre o tempo, chuva, frio, sol...
Nesse local, os terrenos eram menores, com quintais menores e jardins com terraços na parte da frente das casas. Havia também crianças em todas as famílias e transitávamos livremente entre as casas, mas era no terraço ou na rua que brincávamos. Futebol, bicicleta, corda, amarelinha, peteca, na rua; "de casinha", nos terraços, com as bonecas e todos os aparatos envolvidos, carrinhos, bercinhos, roupinhas, panelinhas, comidinhas...
Sendo uma rua tão tranquila, vinham também crianças das vizinhanças brincar ali, inclusive o toninho, que continuou a ser a minha paixão até que mudou-se e nunca mais o vi. Ali, vivi outra fase, convivendo também com os filhos de outros amigos de meus pais, da nossa idade. Nessa fase a figura de minha mãe é um pouco mais marcada porque, às vezes, fazíamos paseios durante a semana, somente com ela e as outras amigas. Às vezes íamos ao cinema e depois comíamos hot-dog nas lojas Reunidas, ou nas lojas Americanas , na Rua Direita. Mas também fomos uma vez assistir, no auditório da Rádio Nacional a "Escolinha do Nhô Totico" que costumávamos ouvir pelo rádio, e algumas vezes o "Programa Manoel da Nóbrega". Outras histórias...
A personalidade de minha mãe só se revelou claramente alguns anos depois de meu pai ter falecido. Ela era alegre, animada e conversava bem sobre qualquer assunto, de política a futebol, além de ter-se tornado uma exímia cozinheira (mas daquelas que escondem os segredinhos). - Não te contei? dizia ela quando a surpreendia usando algum que eu não sabia.Torcia para o São Paulo e sabia tudo, de placar a nomes de jogadores e, é claro, de todas as vezes em que o juiz havia "roubado".
Enquanto, porém, meu pai esteve ali, ela era a casa e ele era o mundo. Essa era uma característica de família (Hoehne).Muitos foram autodidatas, ecléticos, homens de muitas artes (ele teve um tio-avô orquidófilo, bastante conhecido, vinculado ao Butantã). Então, era muito forte para ela, que inclusive era bem mais nova.
Geralmente, brincávamos na rua à tarde. Ali havia a igreja perto e os sinos badalavam às seis horas. Foi nesse período que comecei, diante já de uma noção mais clara a meu respeito como indivíduo, a sentir a tristeza, a angústia, algo como uma dor no coração, uma vontade de chorar que me atingia quando o sol se punha, as estrelas começavam a surgir, o poente era de um colorido profundo e os sinos marcavam as horas.