Há males que se curam com mentiras

Ilusões transvestidas, ou eufemismo, para alguns, nos levam a acreditar, e tornam mais acessíveis, verdades cruas. Os cardíacos disputam, entre si, qual deles carrega uma receita médica maior, a massa de comprimidos que tomam substitui, com sobras, uma refeição.

É necessário se iludir, enxergar com outro olhar aquela “parafernália” de droga ingerida, de forma consciente ninguém se sujeitaria a aquele envenenamento.

Várias propostas já foram apresentadas visando convencer o paciente de que aquele suicídio é um mal vital, por mais letal que possa parecer:

-O comprimido, específico para o coração, tem que ser entendido como aquele nos abre o peito, torna o amor latente, nos contando que estamos vivos, e escoam as agruras;

-A drágea, para a pressão, pondera nossos impulsos, coíbe a paixão, impedindo que os arroubos nos façam insensatos;

-O diurético, além da fé, deve convencer de que os fluidos, de quem ama, devem ser despejados;

-O coquetel de emoções, com todos os ingredientes de um amor, pode provocar turbulências estomacais, para evitar esses distúrbios existem remédios específicos para o estômago;

-O sangue dos amantes deve correr naturalmente, calmo e sem bolhas, que interfiram no percurso...uma cápsula por dia.

Crônica, breve relato da vida cotidiana, e o gênero foi o escolhido, afinal, não se pode perder muito tempo escrevendo, aquele que tem rígido horário para cumprir as prescrições médicas.

Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 20/12/2015
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