36 ANOS DEPOIS...(A Carlos Costa Filho, com muito amor! (17.12.15)
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Acompanhado pela minha esposa Yara Queiroz, que estava radiante e linda mais do que já o é naturalmente, trinta e seis anos ter vestido uma calça e de camisa social, comprada com dificuldades para participar da minha festa de conclusão do curso de, 2o Grau do passado, entrei nervoso com alguns colegas e membros da família, no Clube “Sambão”, na avenida Joaquim Nabuco. Agora, emocionado e mais nervoso ainda do que a 36 anos passados, ingresso no auditório do Ducila’s Festa, na Estrada Jorge Teixeira, usando paletó, gravata, sapato social e um gorro de croché na cabeça, para disfarçar os mais de 70 pontos que tenho na cabeça de um lado ao outro. Deliciar-me-ei e na festa de Formatura do Ensino Médio, pela Escola Literatus. Como no passado ao concluir o magistério, meu filho também tem 17 anos. Só que para ingressar no mercado de trabalho, terá que fazer dois anos de curso pós técnico, se quiser trabalhar. A felicidade estampada no rosto de meu filho me fez tomar um porre de felicidade apenas com água Ele e eu, nunca fomos reprovados nos estudos. O gorro que uso para disfarçar os mais de 70 pontos na cabeça resultado de 11 cirurgias no cérebro desde 2006, vítima de empiema cerebral. Depois disso, passei a viver infectado por duas bactérias incuráveis e tomando remédios! Quando Carlos Filho foi transferido da Alfabetização no “Floresta Encantada” para o Instituto Batista Ida Nélson- IBIM já ingressou no primeiro ano do Ensino Fundamental, após testes de conhecimentos. Como tinha 6 anos de idade, reclamou que não conseguia acompanhar os colegas, pedi e fui atendido que retornasse à alfabetização 3 para depois seguir para o primeiro ano do Ensino Fundamental. Tania Mara, a diretora, reconheceu-me como minha ex- colega no Ginásio Dorval Porto, mas não sei em qual das séries do ensino de 5a a 8a séries da época.
Ao entrar no auditório do Ducila's, senti-me subindo as escadarias do Instituto de Educação do Amazonas, com passos largos e apressados, entrando na Secretária da Escola e requerendo a “Declaração de Conclusão de Curso de Magistério, com habilitação de 1a a4a séria”, no mês de outubro de 1979. Naquele época, o aluno era obrigado a escolher um curso profissionalizante. O primeiro ano do antigo segundo grau com matérias gerais, poderia ser cursado em qualquer escola que tivesse o segundo grau. Cursei o primeiro ano no Colégio Estadual do Amazonas, voltado à cursos de biologia. Conclui magistério no Instituto de Educação do Amazonas e logo comecei a lecionar. A hoje advogada Yara Queiroz, cursou “Secretariado” no Sólon de Lucena e passou de primeira em um concurso para taquigrafa da ALE/Am, sem dificuldades. No passado, os cursos profissionalizantes eram para os jovens ingressarem logo no mercado de trabalho. Hoje foi criado o Pronatec!
Trinta e sete homens da Base Aérea de Manaus, que estava se implantando no Amazonas e poucas mulheres que trabalhavam no Distrito Industrial, formaram a minha turma. Eu era um dos poucos não militares na época. Hoje, tudo mudou! Como lembro e sinto saudades de meus colegas! Por onde andam e porque me abandonaram? De vez em quando encontro algum na rua e diz que foi meu colega em algumas das Escolas por onde passei, mas não lembro e eles também não. Todos mudaram. Eu mudei, enfim, nada é mais igual como fora antes. Nem mesmo o ensino, que mudou para pior porque retirou das salas de aula “cópia”, “ditado”, “OSPB”, “Educação Moral e Cívica” e “Ensino Religioso”, que não reprovavam por notas. Mas por falta, sim!
Quando Carlos Filho foi chamado para receber um tubo sem nada dentro, me senti recebendo a Declaração assinada por Maria Sidney das Dores V. Seixas, chancelada pela diretora do IEA Maria de Nazaré Pessoa Torres. Essa declaração, guardo-a até hoje em uma pasta preta, como se fosse meu tesouro porque dentro dela está minha vida. Mas voltemos à formatura de meu filho no Ducila”s. Sentei no auditório e revivi tudo o que não tive na minha formatura: cerimonial e muitos fotógrafos. Cada movimento dos alunos era uma nova foto. Da minha formatura, guardo uma foto colorida, na qual aparecem membros de minha família, algumas colegas que não lembro mais pelo nome e Jorge Lopes da Silva que, embora não fosse formando, foi convidado por mim, como meu filho também convidou seus colegas não formandos, os irmãos Felipe e Hanna. Durante os discursos, professores, e alunos se revezaram em pronunciamentos, choros de agradecimentos e juramentos. Nada disso houve na formatura de 36 anos passados, nem entrega de um tubo vazio como se lá dentro tivesse o diploma.
Durante a formatura, depois do professor Tavares, paraninfo da turma, que se disse emocionado por ter sido escolhido pelos alunos em votação para representar todos os outros professores, dois discursos me chamaram à atenção, pelo profundo conteúdo filosófico que os compunham. Um deles, foi do professor de história Rafael Pereira, fazendo uma interessante e perfeita analogia da sua matéria com o desenvolvimento dos alunos que estavam se formando, ao longo dos anos, comparando-os com as épocas da pré-história, na alfabetização e foi passando por outras fases históricas sempre comparando-os a cada uma delas, até o momento em que estavam chegando. Disse que teria início a fase mais difícil de suas vidas porque estavam prestes a chegar à Idade da Luzes, com todos tendo que decidir por uma carreira e pensariam com mais clareza.Outro pronunciamento foi o do professor de biologia Jonas Zaranza. Usou uma frase dizendo que “o pior naufrágio é não querer deixar o porto com medo de naufragar”. O naufrágio pode acontecer, porém, no próprio cais do porto se os alunos não objetivarem e lutarem pelo que desejam.
Carlos Costa Filho, que o pegava em casa as sextas-feiras no ano de 2006 e o levava como “meu professorzinho” na Faculdade. Ele ria e assistia as aulas sem interferir, sempre sentado em uma das primeiras carteiras da sala. Gostava de entrar em sala carregando minha pasta e entrar junto comigo. Na sexta-feira, só lecionava três tempos de aula e voltava mais cedo para casa com ele. Meu filho, não importa a profissão que você venha seguir na Idade das Luzes, porque desejo que uma delas que venha a escolher a exercer a pratique com muito amor, dedicação, ética, empenho, honra, dignidade e caráter no que fizer, porque isso nunca me faltou em qualquer das profissões de nível superior que exercer.
É...meu filho, educação, conhecimento é a única herança que lhe deixarei para que você não “naufrague no porto”, como disse o professor Jonas Zaranza, por ter medo de dar um passo adiante.