REDESCOBRIRAM A PÓLVORA (delírios de um repórter)

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10 caixas de cerveja, 135 ventiladores, 21 liquidificadores, 1 caixa de som amplificada, 2 fogões elétricos, 30 latas de tinta, 10 latas de massa corrida, 5 sanduicheiras elétricas e um bebedouro. Calma! Não é uma lista de compra do que eu também preciso como presente para esse natal. Foi só o que retiraram da Unidade Prisional do Puraquequara, durante uma revista de rotina. Todo o material entrou com autorização do diretor. Na minha época de repórter, isso não havia. Existiram “quadrilhas”, como as do Abílio, Alan, X,9, Padeirinho etc.. Algumas bem montadas e estruturadas para a época de 80. se voltaram a assaltos em geral. Outras, como a do “Padeirinho”, se voltou ao tráfico de drogas, mas nada pode ser comparado às quadrilhas de parlamentares investigados pelo STF. As do passado, perto das quadrilhas de políticos de hoje, poderiam ser consideradas fichinhas, principalmente se forem analisadas e comparadas as formadas por políticos com mandatos. Se tivesse direito de escolher pelo voto, votaria nas que existiam no passado. Eram mais honestas e não tão mentirosas como as de agora, cheios de advogados de defesa bem pagos que se apresentam dizendo que seus clientes são inocentes e provarão a inocência deles no decorrer do processo, mesmo que estejam mais sujos do que “pau de galinheiro”. As 10 caixas de cervejas que foram encontradas no banheiro de uma cela na Penitenciária Raimundo Vidal Pessoa. Ela deveria se chamar “Henrique Medina”. Ele foi diretor, por décadas, do único presídio que existia em Manaus, na avenida 7 de setembro, o conhecido até o final da década de 70 e início da de 80, período em deixei de exercer o jornalismo como repórter no Jornal A NOTÍCIA e passei a ser Editor Geral no Jornal do Comércio e depois no Diário do Amazonas, como “Casarão da 7 de Setembro”.

Hoje, mesmo existindo um total descompasso entre o que a direção das Unidades Prisionais permitem que entrem e o que a Secretaria do Sistema Penitenciário diz que pode entrar, Pedro Florêncio Filho, deixou para a próxima semana a elaboração de uma portaria disciplinando a entrada de alimentos nas prisões de Manaus. De novo prometeu que até a metade do mês de fevereiro, passará a funcionar detectores de metais nas cadeias e nada falou sobre a inexistência de bloqueadores de celulares nas cadeias. Tecnologia para isso já existe, mas falta vontade política, ação de fazer e falta de vontade pessoal do secretário. Será que dessa vez, vai ocorrer? Tenho sérias dúvidas! Da Unidade do Complexo Penitenciário “Antônio Trindade”, do Centro de Detenção Provisória de Manaus, do Instituto Penal “Antônio Trindade” e do antigo “Casarão da 7”, retiraram celulares, drogas e as caixas de cervejas, durante vistoria. Se fizerem vistoria durante todos os dias do ano, retirariam 365 ou mais coisas diferentes das celas, o que torna claro que existe alguma coisa errada no sistema prisional de Manaus. Talvez sejam os presos que indiquem os diretores e, por isso, mereçam benefícios em troca da indicação. De outra forma não se pode explicar o que ocorre no sistema prisional de Manaus. No Complexo Prisional do Puraquequara, os presos fizeram cota entre as famílias decidiram reformar as celas, transformando o local em um canteiro de obras. Como ninguém percebeu esse fato? Incrível!

Recordo que durante o período administrado por Henrique Medina, recolhi livros e ajudei a montar uma biblioteca para os presos, dando-lhes a possibilidade de leitura e, dentro da Lei de Execuções Penais, também pode ser usada para redução de pena. Funcionava na parte superior do colonial e centenário prédio o “Casarão da 7”.. Também recordo que caminhava por entre os raios tranquilamente acompanhado do diretor, quando ia entrevistar a apenada Zilda Azevedo de Souza, condenada a 54 anos em primeiro e absolvida por 7 X 0 no segundo julgamento, por envolvimento no chamado “Crime do Varadouro da Morte”. Como sete homens poderiam ter sido mortos, lavados e serem desovados por uma mulher frágil em um ramal da Estrada Manaus/Itacoatiara? Durante esses passeios para entrevistá-la para o segundo julgamento, Zilda sempre se dizia inocente desde o primeiro julgamento. Durante a entrevista, soube que ela fora amante de um militar da PM que comandava na época o CPC.

Também recordo que um preso com curso na Alemanha e profundo conhecer de eletrônica, conseguiu transformar um pequeno rádio de pilha em uma potente som estéreo e colocou caixas potentes ouvi-lo. Também instalou luzes coloridas e transformou sua cela em uma coisa agradável, cheia de luzes que piscavam ao som da música, mesmo não sendo Natal, panos coloridos na parede, enfim. De tão especializado que era e em eletrônica, fora contratado para prestar serviços para uma empresa do Distrito Industrial, dentro de sua cela, com autorização do diretor Henrique Medina como parte de sua socialização e recuperação. A quadrilha do “Alam”, participou do assalto ao supermercado “Agromar”. Não lembro o nome do detento, mas sei que era responsável “envenamento” dos carros Opalas e Maverik's, usados pela quadrilha e o monitoramento dos rádios dos fuscas da polícia. Os “Manduquinhas”, monitorados pela quadrilha seguiam para um lado e seus integrantes seguia para outro. Foi difícil capturar todos seus integrantes, mas foram presos e condenados, Tudo era comandado pelas Secretarias de Segurança Pública e Secretaria de Interior e Justiça, esta comandada pelo ex-deputado federal e empresário de drogarias, Mário Haddad. José dos Santos Pereira Braga, como seu subsecretário. Ah, tempos bons que permanecem registrados na memória e como se fosse uma tatuagem gravada no coração!

Condenados pelo assalto ao supermercado Agromar. Durante o assalto um estudante e também professor de química da Ufam, teria feito uma bomba e explodira durante a ação, matando uma pessoa. Também condenado, teria fugido disfarçado de mulher e dizem que reside em Natal e se tornara um empresário, mas não sei se a informação é verdadeira. Das quadrilhas que atuaram em Manaus, essa foi uma das mais difíceis de ser capturada! Se exagerei no saudosismo peço desculpas, mas voltarei à crônica.

Com relação à existência de conivência entre presos e diretores de Unidades é inegável, ou todo o material recolhido teria passado voando por cima dos muros ou em “teresas” feitas com lençóis que os detentos usam para fugir das prisões. Mas como disse o guerrilheiro Che Guevara, entre um e outro charuto Havana: “é preciso ser duro, mas sem perder a ternura jamais”!

carlos da costa
Enviado por carlos da costa em 16/12/2015
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