Compensação
Quando você se coloca declaradamente a favor de determinada posição, vai arranjar inimigos dentre os que defendem opiniões contrárias. Na busca da melhor das intenções de isenção, se você se manifesta ora a favor de um lado, ora de outro, ainda que suas razões eventualmente sejam indiscutíveis ou irrefutáveis, vai granjear inimigos dos dois lados. Isto se não for chamado de sofista, maniqueísta ou mesmo hipócrita. Mas somos persistentes.
Ontem acordamos com a devassa da polícia, em atenção a mandatos judiciais, às residências do deputado Eduardo Cunha no Rio e em Brasília. Vexatório, em se tratando do presidente da Câmara dos Deputados e eventual substituto do presidente da República no impedimento deste.
Podemos não estar satisfeitos com a negociação levada a efeito para a aquisição da Usina de Pasadena, com os escândalos do Mensalão e os apurados até agora com a Operação Lava Jato e outros graves exemplos de ilicitudes envolvendo às vezes até membros do próprio governo. Mas não podemos deixar de reconhecer que neste governo políticos, empresários e outros poderosos estão sendo desmascarados, processados e presos, sobressaindo-se a figura do Ministério Público e de certos juízes e procuradores, como também da própria Polícia Federal. O que, de certo modo, representa alguma compensação para o cidadão comum, que deve sentir-se vilipendiado a cada notícia de malversação e utilização indevida de boa parte do bolo de recursos públicos que ele ajuda a fermentar.
No entanto, alguns poderiam dizer: “Isto não é nada demais. O governo está aí para isso mesmo. Não faz mais que a sua obrigação, ajudando na apuração do que estiver errado, inclusive cortando na própria carne, se necessário”. O que é correto. Só que nem sempre tem sido assim. Sobretudo, por exemplo, nos governos militares, época em que se fez muita coisa de errado e pouco ainda foi apurado.
Rio, 16/12/2015