Só um grito desesperado

E para quem não tolera dramas pessoais, sugiro que se retire de imediato.

Apenas um desabafo, já que para os artistas nada melhor que sua arte para se expressar e gritar no vácuo, no silêncio, durante a música, em cima das teclas, apertando a caneta, cantando cada vez mais alto, desenhando com intensidade e interpretando cada vez maiores melodramas.

Passei o ano inteiro com medo dessa época "comum" para tanta gente, sabia que ficaria inimiga dos espelhos, de meu reflexo, de meus amigos que cada vez mais se viam bem sucedidos enquanto eu definhava. Se o futuro der certo, ótimo, custou apenas minha saúde. Se der errado, pois é, custou toda minha saúde, e parece que a interpretação não condiz com a meritocracia. E agora tudo está turvo, embaçando cada vez mais, as costelas cada vez mais visíveis, totalmente sem peito, sem força, sem cor, com medo. A dor física cada vez mais aparente, sezamóide quebrado, costas destruídas, pernas sem estrutura, um machucado à cada respirada. Só restam fotos em preto em branco, escondem o medo, as olheiras e a confusão interna.

E vejo dando tudo por uns segundos de adrenalina para acalmar o coração acelerado e a mente bagunçada. E à cada encontro, o roteiro se repete: Como. Você. Emagreceu. E as crises familiares passaram a não significar mais nada perto de toda turbulência interior, eles com certeza se separarão e você só pode assistir, ela provavelmente sairá de perto o quanto antes, e você se contenta com o fato de não estar lá. Então aceite, sorria e acene. Porque agora tudo o que tem é sua arte. E que faça bom uso.

Classicisa
Enviado por Classicisa em 14/12/2015
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