Assim ou...nem tanto 23
Os Cardos
Só há verdadeira beleza no desempenho perfeito da função e por isso, disse o sábio, tudo o que é vivo traz, por inerência de definição, muita beleza. Não senti-la é, apenas, deficiência de perceção, leviandade dos olhos, apagamento do espírito. Ficavam, assim, recuperados, muitos dos excluídos porque o belo mudou de cor, textura, timbre. Fez-se mais importante, de uma crucialidade visceral que suprime, de vez, a apreciação superficial. Estavam, desta feita, recuperados os feios saudáveis, os diferentes, os seres que, certos no seu mundo, poderiam exibir o luxo da perfeição ou da absoluta beleza. Passei a admirar como uma das maravilhas do mundo as osgas e deixei de me sentir eu próprio desconfortável por amar os catos. A respetiva beleza é, portanto, uma função do que cada entidade precisa para ser. A seguir, dilatou-se o meu espaço e, sem constrangimento, posso assumir a minha identidade profunda com cardos, essas flores de solidão que teimam em florir mesmo quando, crestada de sol e secura, a terra lhes nega qualquer tipo de abundância. Vive mais feliz o que se percebe perfeito em sua casa e genuinamente igual a todos fora dela.