O ÚLTIMO ESPETÁCULO

A vida é um espetáculo e quando fechamos os olhos ela está terminada.

Penso, minhas mãos não podem faltar, preciso escrever esta derradeira página.

Os ossos já estão sobrecarregados pelo cansaço dos anos, embora a vida ainda pulse neste corpo sem viço.

É estranho, mas enquanto escrevo, lembranças rolam feito folhas secas e passa-me pela memória como num caleidoscópio mágico, os momentos felizes, as decepções, angústias, tristezas, amigos que fiz na estrada da vida e que ao passarem, deixaram saudade, outros que esqueci, embora não tenha guardado rancor, pois preferia que assim não tivesse sido.

Por mais que o tempo passe, não morrem os sentimentos, os sonhos se vão, mas a saudade feito vulto esguio vagará pelo recinto.

A tarde soluça e alguém balbucia uma prece. É como um som longínquo de fontes que murmuram.

É meus amigos, um dia estarei me ausentando para não mais voltar.

Que vazio vou sentir, pois estarei improdutiva, minhas mãos estarão inertes, repousando sobre meu peito. Já não pintarão, nem escreverão.

Espero que no coração daqueles que mais convivi, o perfume da minha amizade, faça morada, pois os estarei acompanhando até o fim dos tempos.

As luzes da ribalta se apagarão e as cortinas se fecharão. Na coxia da saudade, vagarão lembranças silenciosas do último espetáculo.

Seguirei ao encontro daqueles que saíram antes de mim.

Não, não pensem que a morte é demência, embora eu não esteja mais presente fisicamente, pois neste momento o espetáculo findou, estarei vivendo em cada quadro que pintei e em cada linha que escrevi e que agora você lê.

Adeus!

Zulema Costa Mello
Enviado por Zulema Costa Mello em 12/12/2015
Código do texto: T5478087
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