MEIA VOLTA, VOLVER!
Nathan ou Natan? não importa, no momento da qualificação perante a autoridade policial, ou judicial os dados corretos serão buscados no sistema: nome completo, filiação e data de nascimento, depois da primeira qualificação o carimbaço estará pronto, estigmatizado, fará parte da grande família "Sistema", as informações contidas nele e nas cabeças dos agentes servirão base para futuras investigações. Parcerias, modus operandi, local de atuação, características pessoais e pronto, sempre terá algum agente para apontá-lo como suspeito e com pequena probabilidade de erro.
Nathan? Uma criança, aliás um anjinho de no máximo três anos. Caminhávamos no final da manhã quando na metade da quadra uma mulher entre 20 e 25 anos seguida por Nathan atravessou diagonalmente a avenida, olhos no display do celular ela dedilhava e o trânsito mesmo calmo continuava fluindo.
Tão logo subiram o meio fio Nathan tropeçou e murmurou que alguma coisa estava machucando-o. O pobre quase futuro delinquente, numa voz doce e suave reclamou novamente, então ficou claro que era o chinelinho, ela quase que com certeza era a mãe, sem tirar os olhos e os dedos do celular, xingou o pequenino:
- Anda, que não tem nada te machucando! - assim foram até a esquina, talvez 100 metros adiante, ele choroso reclamando do chinelinho e ela no ritual de dedilhar e xingar.
Na esquina paramos para atravessar e eles convergiram à esquerda. Novamente Nathan desequilibrou-se, então ela voltou-se e ao brados disse-lhe que ele iria apanhar se continuasse reclamando, mas nem bem fechou a boca e deu-lhe um tapão na cabeça, deslocando a pobre cabecinha para frente, de imediato ela teclou alguma coisa levou o telefone ao ouvido.
Todos nós olhamos e nos acovardamos. Todos nós: eu, a Tânia, duas senhoras paradas na esquina e um jovem que vinha da academia de ginástica.
Tomado pelo sentimento de "justiça pelas próprias mãos" dei dois assobios e ela olhou-me, então gritei:
- Para cada tapa que deres nele te darei dois! - de imediato me arrependi, pensando que teria que cumprir a ameaça e assim correndo risco dela dar-me três tapas de retorno, ou de algum condutor, daqueles que passam em alta velocidade no cruzamento sair em defesa dela, enfim, naquele lapso de tempo a melhor solução seria chamar a polícia. Desisti, pois era horário de almoço e talvez não houvesse patrulhas disponíveis, se houvesse, os plantonistas da delegacia poderiam estar em ocorrência ou almoçando.
Seria melhor para todos nós que eu tivesse voltado até a outra esquina e retornado depois o meu caminho, pois agora experimento o remorso de talvez tê-la enfurecido e mais adiante em vingança pela minha intromissão ela possa ter completado o espancamento do anjinho.