VESTIDO VAPOROSO

VESTIDO VAPOROSO

12/12/15

Há muito tempo desisti de saber se é verão, primavera, outono ou inverno. As datas que criaram no calendário são meros apelos comerciais para lançamento de coleções, e assim mesmo as épocas ali se misturam “primavera/verão” e “outono/inverno”. Para mim o que vale são os sinais da natureza. Se sinto frio, coisa rara, é inverno; se vejo as ruas cheias de folhas, é outono; se o que vejo são flores e pássaros com seus piados estridentes e sonoros cânticos, é primavera; mas se o que vejo é a sombra esguia que o sol projeta do meu corpo nas caminhadas que faço, me dando a possibilidade de mais altura e nova forma; sei que é verão.

No verão as flores que vejo são outras, gazelas e potrancas expondo suas formas em tecidos que modificam as cores da pele e que com extrema fidelidade artística reproduzem todos os contornos do objeto adornado. Diminutos shorts que apesar de variarem na altura, sempre enforcam as coxas que agasalham nos dando um incontrolável sentimento de socorrer aqueles roliços seres sufocados pelo grosso tecido de um jeans. Mas a mais bela das flores que vejo no verão vem embalada em um leve tecido, que sem ser transparente transmite e possibilita a mente toda uma transparência nos fazendo enxergar com os olhos dos sentimentos. Olhar discreto e que reproduz uma visão exclusiva. Tecido de veste que se associa ao vento e com ele faz menção de voar nos trazendo uma incontida ansiedade e muita atenção. Tecido que reproduz os movimentos das pernas que se alternam num vai e vem para frente ou para traz e reproduz os movimentos laterais e circundantes do menear de quadris criados por um deus brasileiro, não deixando nenhum espaço para qualquer outro movimento.

Verão que nos faz transpirar e na transpiração a alegria de sentir que a vida continua pulsando com toda intensidade.

Geraldo Cerqueira