Na Trilha da Roça...




         Saindo pela manhã, para trabalhar na roça, muitos caminhos percorri... Muitos riachos atravessei, tudo me inspirava alegria e paz, tantas paisagens observei, vislumbrei...

         Nos riachos que atravessava sem sapatos me punha a passear a rés do chão. Seguia a trilha de barro vermelho, marcada pelos arbustos e trepadeiras, no contraste do reluzir da aurora mesclada luminária de cima das copas para baixo resplandecente como o cálice que o padre, na missa mostra pra gente...

         A água pura cristalina correndo em cascata geladinha molhava da canela até os pés... E quanto mais pulinhos eu dava, mais pingos de pratas reluziam em festa ao cair aumentando as ondas. Água espanava...

         Os respingos assustavam libélulas e borboletas em nuvens coloridas a revoar furta-cores ao meu redor... Eu me imaginava em meio aquela paisagem como tela à óleo, pintada com o pincel da natureza...

         Como se eu fosse um retrato gravado ao vento... Um “afresco” de Portinari... Miguel Ângelo... Uma aquarela da natureza a grande mestra da força, da vida e da beleza... E a luz do sol a caminhar, cedinho, refletia no espelho d´agua e se transformava “todinho” em arco-íris à beira da mata.

         Garças lindas alçando vôos formando listras brancas no céu. Outras a procurar alimento farto dentro das correntes e cascatas, com suas longas pernas e seus bicos enormes a pescar, e se sacudindo para secar...Outros pássaros menores ao redor concorriam para aquelas sobras pegar.

          Mais adiante eu colhia buquês de flores na fina trilha ao passar... Tudo isto para entregar a minha mãe ao chegar. E ela muito alegre, com sua comidinha na mesa, quentinha, corria pra me abraçar, e as flores no vaso colocar, e seu altar enfeitar.

          Lá ela se ajoelhava agradecia a comida. Orava pela família e pelos amigos... Recomendava o mundo todo, pra a todos abençoar... E Deus sempre abençoava e nada deixava faltar...

          Hoje aquele riacho secou... O desmatamento chegou... Não há trilhas no barro vermelho, só autopistas muito barulho e arrancada de motores... Corredores animais silvestres agora têm placas rente ao asfalto, mas não são respeitadas... E suas carcaças jazem aos montes ao longo das rodovias...

          Agora já não se repara mais nas flores, nem nas borboletas, nem nos riachos, nem na bênção da luz do sol que cada dia nos desperta, nos presenteia como o doce presente que é o milagre da vida...

          Mas ainda há muita beleza, e para desfrutar do contato com a natureza é melhor andar a pé... Pisar na relva molhada, sentir a energia de pedrinhas e seixos nem que seja no jardim de sua casa... Coisas simples que a todos fazem bem, que reavivam a sensibilidade e estão ficando só na lembrança...


Ibernise.
Indiara (Goiás/Brasil), 01JUL2007

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Ibernise
Enviado por Ibernise em 01/07/2007
Reeditado em 23/08/2013
Código do texto: T547746
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