Depoimento sincero
-Então policial Flávio... ? Flávio não é? Sou ruim com nomes e você já é o terceiro policial que me interroga. Acho que o primeiro foi um grandalhão gentil. Ele me ofereceu um café maravilhoso. O segundo gritou muito comigo "mentiroso, você está delirando etc". Ambos não acreditaram em mim... com você pode ser diferente, ou não. Contarei exatamente o que eu vi naquela noite terrível, porém heroica, onde o habilidoso jovem conseguiu relutante se defender do ataque d'um idoso violento. Até porquê só poderei sair daqui se contar esta história de novo. Tomara que você seja o último Flávio, já não aguento mais. Preciso descansar depois de acabar esse depoimento.
-Apenas começe...
-Vou começar: Tinha saído com uns colegas de faculdade. Voltávamos de um bar lá perto da... da... Ah, lá perto da Rua Érico Mota. Nos despedimos na Av. Bezerra de Menezes e eu entrei na Érico Mota. Olhei o horário no meu celular e eram 21:30. Não havia um cristão na rua. Caminhei indo em direção à Jovita Feitosa. Não tive medo é claro. Estava deserto, isso significa que não tinha ninguém, inclusive malandros. Infelizmente eu estava errado. Avistei de longe um senhor de idade abordando um jovem. O senhor de idade bateu com sua bengala na cabeça do pobre garoto e correu. Agora, como um idoso de bengala correu, isso eu não sei explicar. Sá estou contando o que vi. Então, Flávio, o idoso começou a briga. Depois que bateu no jovem, correu. O jovem foi atrás e ele parecia bem furioso. Puxou uma faca e tentou cortá-lo. Ele fez um corte no braço do idoso. "Bem feito", pensei , "mexe com quem está quieto, idoso safado".
-... E o que aconteceu depois?
-Ele bateu de novo com a bengala. O jovem ficou um pouco tonto e foi nesta hora que o idoso se aproveitou da situação e tomou sua carteira. Acho que ele ficou satisfeito. Até sorriu. Feito isso, correu em minha direção pedindo ajuda: "Socorro, me ajude moço. Eu te ofereço dinheiro".
Fiquei com muito medo, achei que ele ia me bater da mesma forma que bateu naquele jovem. Mesmo com essa pressão, tive que rejeitar. Não ajudo bandidos.
-Então você não ajudou o idoso?
-Morro, mas não ajudo. Ele ficou surpreso e correu adiante. O jovem correu para pegar o velho, e esbarrou em mim. Gritou: "Saí da frente ou eu te mato!" Não fiquei surpreso. O coitado deve ter achado que eu havia ajudado o ladrão, mas como eu disse antes: Não ajudo marginais. Depois ele, o jovem, puxou uma arma e disparou 3 tiros merecidos naquele ladrão de carteira. O velho caiu e ele pôde pegar a sua carteira de volta.
-Não acredito que estou escutando isso. Quem te deixou depor?
- Mas você entendeu? Foi legítima defesa. Por que ninguém entende isso? Hum... posso tomar outro café? Estou com sede. Me dê alguma coisa para beber. Ah, não precisa. Acabei meu depoimento. Estou indo para a casa descansar, amanhã darei uma palestra de DH. Até mais Flávio, e por favor, mande um abraço para o jovem. Como ele se chama mesmo? Ah! Pedrinho da Rocinha. Mande um abraço para o rapaz. Até mais Flávio, de novo. Espero ter te ajudado.
-Sujeito maluco.