Naquela Mesa

Sentado na cabeceira daquela mesa, rodeado pelos filhos, netos e outros familiares, o meu pai, que era apelidado de Major (embora só tivesse chegado a cabo quando serviu ao Exxército no Rio), nos contava episódios de sua vida, como militar,mascate, comerciante, tabelião e depois dentista prático. Nunca aparecia nessas histórias como maioral, sempre como coadjuvente, gostava de destacar os outros. Eram histórias lindas e fantásticas, sempre eivadas de humanismo, lições de vida, histórias que guardei na memória e ainda hoje, creiam, si contá-las todas de cor e salteado.

Naquela mesa que também era usada para o carteado (ele gostava de jogar e nunca perdia) e para as reuniões do PCB, ele rememorava sempre contente o seu dia, mesmo que vivesse sendo alvo de perseguições devido asua ideologia. E quando falava do partido ou do espiritismo (era comunista e espírita) os seus olhos brilhavam. Sempre fui mais que filho, fui fã inondicional do Major. Foi - e continua sendo - meu herói.

Mas eu não sabia que iria doer tanto ver aquela mesa sem ele, a casa sem ele, a minha vida sem ele. Felizmente a família livrou-se da casa e dos objetos. Fiquei apenas com um quadro que um funcionário do DNOCS pintou e lhe deu de presente, um barquinho no meio do mar, e um livrinho intitulado "A morte não interrompe a vida", que li por cima (é espírita, eu não sou espírita, não sou nada), Mas de vez em quando amolego esse livrinho, e o quadro olho para ele todos os dias.

Não há um so dia que eu não me lembre do Major, alegre, bom, honesto e fraterno,contando as suas histórias. Sempre me lembro delas com emoção, e quando boto no som a música de Sérgio Bittencourt, na voz de Nelson Gobçalves (cantor que ele gostava muiro) eu choro: "Naquela mesa ele sentava sempre/ E me dizia sempre o que é viver melhor/ Naquela mesa ele contava histórias/ Que hoje na memória eu guardo e sei de cor..."... Eu nao sabia que dopia tanto... Quie saudade do Major. Inté.