RAPAZ SEM NOME
Eu respondia por uma Vara de que cumulava o Cível, o Criminal e Infância e Juventude. Depois de algum tempo, soube que havia numa instituição um rapaz que fora criado lá desde os seis anos aproximadamente, quando foi encontrado perambulando pelo acostamento da Rodovia Raposo Tavares.
O jovem havia aprendido uma profissão e vira muitos crianças e adolescentes em situação de risco passarem pela instituição e irem embora, mas ele foi ficando. Como não se sabia de onde viera, quem eram seus pais ou mesmo o seu nome, ele conhecido apenas como Zezinho. Um dos diretores da obra assistencial me confidenciou que ele fora resgatado pela Polícia Rodoviária e todos os esforços para tentar localizar familiares da criança foram inúteis. Notícias nas rádios, jornais, diligências policiais, enfim, tudo o que era razoável fazer foi feito, mas sem resultado algum.
Como é triste não possuir um histórico familiar de afeto e carinho, sem qualquer vínculo com um local de nascimento. Fiquei muito comovido, pensei em conversar com algum casal que quisesse ceder o nome ao rapaz, mas desisti, pois é sabido que dificilmente alguém adota uma pessoa com 18 anos.
Conversei com o Zezinho, um sujeito calado, tímido e confesso que aquilo me perturbou por estar diante de um rapaz sem nome. Notei no Boletim de Ocorrência elaborado quando do encontro da criança, o documento era de 06 de janeiro, dia em que a comunidade católica comemora o Dia de Reis, pois esse seria o dia em que os magos visitaram o recém-nascido Jesus.
Resolvi mandar confeccionar o Registro de Nascimento com as informações que tínhamos, então, a data de nascimento, não tenham dúvida, foi 06 de janeiro e já não me lembro o ano, mas creio que era 1975. Quando perguntei a ele como gostaria de ser chamado ele disse que gostaria de ser chamado de José dos Santos Reis. Achei muito significativa a sugestão e assim foi que o Zezinho ganhou sua cidadania. Esse caso inusitado para mim, marcou muito a minha trajetória de judicatura.
Hoje José dos Santos Reis está perto dos 40 anos e eu gostaria muito de saber como ele está. Penso se ele constituiu uma família, se tem filhos, se superou eventual trauma do abandono sofrido. Me lembro sempre do Zezinho porque minha filha Adriana aniversaria no mesmo dia.
Eu respondia por uma Vara de que cumulava o Cível, o Criminal e Infância e Juventude. Depois de algum tempo, soube que havia numa instituição um rapaz que fora criado lá desde os seis anos aproximadamente, quando foi encontrado perambulando pelo acostamento da Rodovia Raposo Tavares.
O jovem havia aprendido uma profissão e vira muitos crianças e adolescentes em situação de risco passarem pela instituição e irem embora, mas ele foi ficando. Como não se sabia de onde viera, quem eram seus pais ou mesmo o seu nome, ele conhecido apenas como Zezinho. Um dos diretores da obra assistencial me confidenciou que ele fora resgatado pela Polícia Rodoviária e todos os esforços para tentar localizar familiares da criança foram inúteis. Notícias nas rádios, jornais, diligências policiais, enfim, tudo o que era razoável fazer foi feito, mas sem resultado algum.
Como é triste não possuir um histórico familiar de afeto e carinho, sem qualquer vínculo com um local de nascimento. Fiquei muito comovido, pensei em conversar com algum casal que quisesse ceder o nome ao rapaz, mas desisti, pois é sabido que dificilmente alguém adota uma pessoa com 18 anos.
Conversei com o Zezinho, um sujeito calado, tímido e confesso que aquilo me perturbou por estar diante de um rapaz sem nome. Notei no Boletim de Ocorrência elaborado quando do encontro da criança, o documento era de 06 de janeiro, dia em que a comunidade católica comemora o Dia de Reis, pois esse seria o dia em que os magos visitaram o recém-nascido Jesus.
Resolvi mandar confeccionar o Registro de Nascimento com as informações que tínhamos, então, a data de nascimento, não tenham dúvida, foi 06 de janeiro e já não me lembro o ano, mas creio que era 1975. Quando perguntei a ele como gostaria de ser chamado ele disse que gostaria de ser chamado de José dos Santos Reis. Achei muito significativa a sugestão e assim foi que o Zezinho ganhou sua cidadania. Esse caso inusitado para mim, marcou muito a minha trajetória de judicatura.
Hoje José dos Santos Reis está perto dos 40 anos e eu gostaria muito de saber como ele está. Penso se ele constituiu uma família, se tem filhos, se superou eventual trauma do abandono sofrido. Me lembro sempre do Zezinho porque minha filha Adriana aniversaria no mesmo dia.