A DOENÇA DE ALZHEIMER EM MINHA MÃE: MUDANÇA DE HÁBITOS E COMPORTAMENTO
Os primeiros sintomas do Mal de Alzheimer em minha mãe apareceram quando ela estava com 65 anos. Os médicos que a acompanhavam seguiram os procedimentos comuns, tais como exames laboratoriais, eletro encefalograma, tomografia, mas não conseguiram distinguir a doença mesmo após as tomografias computadorizadas. Eles apontavam que o comportamento insólito da minha mãe seria o estado natural dela, que era da idade. Os procedimentos seguintes foram entrevistas com neurologistas, psiquiatras e psicólogos. Mesmo assim tardaram a dar o fatídico diagnóstico de que minha mãe era portadora de uma demência. E foi a partir da revelação de que minha mãe já não distinguia o quente do frio, e do resultado de um exame, o que havia de mais moderno na época, que finalmente o neurologista diagnosticou ser minha mãe mais uma vítima desse mal que se alastra no século XXI: a temível Doença de Alzheimer. Tal diagnóstico causou transtornos a toda a família. Uns aceitaram, até já tinham certeza ser esta a doença; outros ficaram angustiados e deprimidos, e outros se revoltaram, até culparam os médicos, assinalando que estes estavam sem realmente saber do que se tratava. Mas, passado o impacto da confirmação desse mal na vida de minha mãe, e de posse de um diagnóstico que era mais grave do que se acreditava, a família passou a se preocupar com as mudanças que deveriam fazer para proporcionar uma melhor qualidade de vida à minha mãe.
Um problema imediato, além do esquecimento e das confusões que este causava, era que mamãe não conseguia se expressar normalmente. Desse modo, havia a necessidade de aprender a interpretar sua expressão corporal para saber o que ela desejava.
É importante ressaltar que na Doença de Alzheimer a memória de longo prazo é a parte da memória preservada por mais tempo, por isto estimular o relato da história de vida é uma forma de manter este segmento da memória que ainda funciona ativo.
O pior aspecto que a doença de Alzheimer trouxe na vida da minha mãe foi a mudança completa de sua personalidade. Era extremamente doloroso olhar para aquela mulher que um dia foi tão forte, que superou tantas dificuldades, e ver agora uma pessoa frágil, uma mulher que não era nem a sombra do que fora outrora.
Outro problema que trouxe grandes preocupações era a perambulação e os riscos de acidentes domésticos. Como ela retornava lentamente ao estado normal de consciência, durante muitos meses foi como ter uma criança pequena em casa: havia a necessidade de vigília constante, tesouras, facas, produtos de limpeza e medicamentos precisavam ser escondidos. Tomadas elétricas e interruptores protegidos, sem falar da necessidade de guardar em local seguro as chaves, uma vez que ela as escondia em local que ninguém conseguia achar. As atividades mais simples e rotineiras eram difíceis para ela: como, por exemplo, a ida ao banheiro, sua higiene pessoal, seu vestir ou se alimentar. Por várias vezes testemunharam-se situações inusitadas como guardar comida dentro do guarda-roupa, e outras mais graves, como quando peguei minha mãe colocando as mãos na torradeira tentando assar pão.
A doença de Alzheimer evoluiu progressivamente. Minha mãe não andava, não articulava corretamente as frases, não reconhecia seus filhos, nem mesmo meu pai.
Diante destas circunstâncias meu pai reviu seus valores e descobriu suas potencialidades enquanto um ser que soube retribuir todo o amor, o respeito e dedicação que minha mãe sempre lhe dispensou quando era lúcida.