Lembra, amigo meu?

 
        Nós éramos jovens, jovens demais e você me levou para conhecer sua família naquela pequena cidade perto de Volta Redonda. Ficamos dias e foi tudo muito bom, em viagem que se repetiria muitas vezes.
        Quando de volta a São Paulo, ao abrir a mala, que surpresa: uma cartinha da sua sobrinha mais velha, de oito anos, cartinha perfumada, cheia de desenhos e coraçõezinhos, dizendo para eu voltar outras vezes, que ela havia gostado muito de mim. Ah, quantos beijinhos...
        Lembrei-me agora, Zé, da minha própria sobrinha com uns quatro anos - agora  ela está com 18. Por que as crianças crescem e se esquecem? Por que a vida nos envelheceu tanto, plantou-nos tantas rugas na alma, mais do que no rosto? Ah, amigo meu... Eram limpas as águas daquele rio e apesar de nos acharmos tão sabidos éramos ainda também quase duas crianças que cresceram rápido demais. Lembra, amigo meu?