Minha avó, minha oração
Ontem a noite passei na Casa dos meus pais para visita los e à minha vó. Eles se encontravam no quarto deles a se arrumar para irem a missa. Então fui ao quarto ver vovó, que dormia. A cuidadora disse que podia acorda la pois era hora do jantar. Então a beijei e falei lhe ao ouvido: vovó acorde vamos jantar!? Ao que ela respondeu prontamente: Vamos sim! E já iniciou os movimentos de pernas e braços para sentar se. E esse é o ponto onde queria chegar com toda essa introdução. Pois ao mesmo tempo que me espantei pela sua rápida resposta e mobilidade, ao lentamente escorregar as pernas em direção a beira da cama e com o apoio de mãos e braços tentar se erguer, o que só foi é e de fato possível com o auxílio externo, que o fiz prontamente enquanto a cuidadora estava na cozinha ajeitando sua refeição.
Mais como falei ao mesmo tempo que me e espantei com sua resposta física e motora, sua aparente altivez, e um mínimo de lucidez, sempre responde quando peço sua bênção e faz o movimento de levar minhas mãos aos lábios para beija la, embora de forma descoordenada e sem o êxito completo, mais o beijo com os lábios mesmo, muitas vezes longe da minha mão chega direto ao meu coração. E, de novo, esse é o ponto. Ver vovó assim me encanta, me assusta, me espanta. A história de vida dela é cheia de beleza, de vitórias, superações. Uma das coisas que mais me admira nela é a sua força vital, sua determinação e porque não dizer teimosia em querer viver. Sua fé ainda hoje se reflete no seu semblante, mesmo debilitada pelo peso das dores, das quedas, da senilidade que chegou e rapidamente se instalou. Mesmo com toda limitação quando olho ora vovó vejo e sinto paz em seu semblante, no gesto, no rosto, na fragilidade de seu corpo já tão desfigurado. Ela sempre responde que está bem, tudo bem meu filho! Vovó já não tem mais a vitalidade e alegria que marcaram sua personalidade e sua existência. Mas mesmo assim frágil, limitada, ela continua nos ensinando que o melhor da vida é vivê la intensamente na plenitude dos seus dias e que cada dia é um milagre, um presente de Deus nos dado a cada despertar.
Penso assim. E, de novo, sempre, me vem a confusão de sentimentos. A alegria de saber que está viva entre nós e nos presenteia com sua determinação e simplicidade. E uma certa tristeza, por vê lá assim, tão frágil, tão limitada, restrita a um pequeno espaço, um leito, um quarto.
Pouco antes sua saúde física a limitou a casa, no máximo ia a sala ou a calçada e, raramente, e com muitas dificuldades saia para ir ao médico ou para exames, mas ainda se encontrava lucida, divertida, dividia conosco sua alegria, suas estórias e história. A perda progressiva da visão foi um dos grandes baques. Já não conseguia ler como antes, a bíblia, seu livro de cabeceira não podia mas ser acessada facilmente, mas ainda podia ver e, sobretudo, ouvir a missa na TV, fazia suas orações religiosamente todos os dias, muitas vezes ao dia. Rezando, sempre rezando, por nós por todos nós. E hoje, vovó já não enxerga mais, mais nos faz ver cada vez mais longe, não escuta tão bem mais nos faz cada vez mais atentos a tudo e a todos, nos faz perceber o mundo a nossa volta. E vovó também não tem mais a vitalidade de antes, não debulha mais as contas do terço, nem seus livros e orações diárias. Mas a cada novo dia ela é a própria oração, a cada novo despertar sua vida é uma dádiva, uma prece de louvor e agradecimento a Deus. Reconhecendo sua finitude mas dizendo estou aqui meu Pai e sou tua serva, faz em mim segundo a tua vontade. Pois já não sou mais eu, mas Cristo que vive em mim. E assim é a minha vó, e assim a cada novo dia de sua existência me faz acreditar que temos sim um propósito aqui e o dela foi e é ser sal e luz pra nós, sua família, ser exemplo de perseverança, fé e determinação. Por isso a cada dia que Deus nos der a mais de tua presença vovó eu louvarei e bendirei a Deus por tua vida. Muito obrigado vovó por me ensinar a cada dia. Me mostrar a cada dia que posso e devo ser a melhor.