Simples espera

A luz mortiça de um poste adensa sombras na rua deserta. Tudo é silêncio. Silêncio e calma. De repente, porém, largos passos de uma mulher perturbam levemente a placidez presente. Ela se senta receosa, em um desses bancos de cimento, à espera de um ônibus.

A mulher, entre o cansaço e o medo, cerra os olhos, cambaleando a cabeça. Logo depois, arregala-os, como se alguém ou alguma coisa a tivesse assustado. Depois, olha para o lado, olha para o outro, temendo a vinda de um assaltante que lhe tirasse seu dinheiro ou, quem sabe, a própria vida.

Olha o relógio para ver as horas. Vê que está muito tarde e que, provavelmente, quando chegar a casa, encontrará seus dois filhos dormindo, sem a oportunidade de dizer-lhes um boa noite. Também sabe que não encontrará o marido, pois deve estar bebendo com os amigos, ou então, deve estar com uma dessas mulheres oferecidas que, por pouco ou nenhum dinheiro, fazem questão de deitarem com homens casados.

A mulher aproveita - enquanto o ônibus não chega - para ajeitar os cabelos crespos, que estão desarrumados, devido à intensa faxina que ela fez no apartamento de um homem, muito bonito, porém, bagunceiro. Tenta ajeitar alguns fios que teimam em ficar em pé, colocando algumas fivelas no cabelo.

Enquanto isso, a mulher avista o ônibus que deseja pegar e, com certa alegria, adentra o meio de transporte coletivo, desejando ardentemente voltar para casa.

Jéssica Guimarães
Enviado por Jéssica Guimarães em 30/06/2007
Código do texto: T546981
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