Não vire vinagre

Um dos maiores temores do ser humano é envelhecer. As pessoas fazem toda sorte de esforços vãos para evitar o inevitável. Lançam mão até de fantasias tentando disfarçar o indisfarçável. Vão a clínicas, fazem plásticas, fantasiam-se de jovens e grande parte teima em não enfrentar o óbvio ululante: o fato que o flir incessante do tempo envelhece as pessoas. Que isso é irreversível.

Alguns quando a ficha cai, quando o espelho rasga as suas fantasias, ficam deprimidos. Outros começam como retalição ao efeito do tempo a praticar maldades, a ficar irritadiços, de mau humor permanente. Uma reação completamente estúpida e irracional. Há também os que além de ficar chatos viram radicais religiosos, enfurmam-se nos templos como se isso fosse estagnar seu envelhecimento.

Não censuro os que buscam ajuda devido a não aceitar bem o envelhecimento, mas é necessário entender que há beleza no envelhecimento. É uma fase natural da vida. Tem os seus encantos e deve ser vivida na sua plenitude. Há as dificuldades, mas, não iobstante elas, é possível fazer essa travessia com alegria e felicidade.

Dom Hélder Câmara, alguém que enfrentou o envelhecimento com alegria e sabedoria, numa crônica antológica fez uma advertência que deve ser refletida por todos nós da terceira idade: "Se sentirem que os anos passam, e a mocidade se vai, peçam a Deus, para si e para os que se tornam menos jovens, a graça de envelhecer como os vinhos envelhecem - tornando-se melhores - e, sobretudo, a graça de, envelhecendo, não azedar, não virar vinagre". Uma grande verdade. Não vire vinagre. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 04/12/2015
Código do texto: T5469597
Classificação de conteúdo: seguro