Um feriado

07 de setembro. 23h45min. Término de feriado com muito sol.

Acordei tarde. Decidi colocar diversas tarefas em dia em casa, a exemplo dos inúmeros papéis que costumo deixar jogados por todos os cantos, como se fizessem parte da minha vida. Alguns até fazem e, para estes, dou sempre um destino muito carinhoso. Mas a maioria, depois de um tempo, não tem mais valor algum e acabam ocupando um espaço desnecessário. Muitos deles lembrando compromissos e encontros que, além de terem tirado o meu tempo, não valeram absolutamente nada a pena. Sim, eu sei que “tudo vale a pena”, mas neste momento o meu julgamento é distinto.

Durante o dia, com a ausência de barulho externo em função do feriado, somente liguei o rádio ao acordar para tomar conhecimento da temperatura. Desliguei-o e fiquei no meu mundo - eu e o meu silêncio. No fundo somente algumas músicas rodando bem baixinhas. Músicas lindas que têm um significado muito especial para mim e que foram agrupadas em um pen drive que vale ouro.

Meu dia acabou se passando com uma profusão de atividades, contracenando com o silêncio que há tanto tempo eu aguardava: escrevi, li um pouco, limpei algumas coisas, organizei-as, estudei e trabalhei em um conteúdo de curso a ser ministrado, postei tarefas de um curso a distância, pensei nas coisas boas que andavam me rondando e, sem tempo estipulado, “passeei” em 95 m2 como se aquele espaço tivesse o tamanho da Redenção. Tudo feito exatamente na hora em que o coração mandou: sem relógio, sem cobrança. Situação um tanto estranha para quem se mantém ativa e antenada com as coisas da vida e absurdamente subordinada a uma agenda.

Lembrei-me de não ter ligado a TV há três semanas, a não ser o dispositivo do “sleep” por 15 minutos para incitar-me ao sono. E tenho dormido muito bem.

Coincidentemente essas três semanas se passaram de uma forma tão diferente que me pareceu não terem propósito algum.

Alienei-me do mundo e dos seus problemas econômicos, políticos e sociais por todo esse tempo e não senti falta de nada. Cansei de sensacionalismos, de CPIs, de caras de pau, de vaidades desmedidas.

Não quero mais saber se a bolsa de valores cairá ou não. Não tenho dinheiro investido nela. Egoísmo? não, somente preservação! Cansei de ouvir falar que a Europa vai explodir. Cansei da palavra Nasdaq.

Cansei das histórias tristes no aspecto social em nível mundial e de mentes doentias que, com uma frieza desmedida, aniquilam famílias, empresas, comunidades.

Nesses dias tenho reinado no meu universo do jeito que gosto. Nesses tempos sou rainha!

Para finalizar a noite um chazinho gostoso, um telefone para uma amiga que invariavelmente vive de bom humor, algumas risadas e, aconchegando-me numa poltrona simples e fofinha, à meia luz, penso em dormir, tendo a sensação de que este lugar tão aconchegante, chamado “meu lar”, coroou este feriado que, para ser bem franca, neste momento não sei mais a que se refere.

(Publicada no livro PROSA NA VARANDA 3 - Grêmio Literário Patrulhense) - lançado em 02/12/2015

Rosalva
Enviado por Rosalva em 02/12/2015
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