Exercício de um direito

Hoje eu preciso sair só.

Eu sei, estamos bem, nossa saúde controlada, aparências boas, relacionamento estável, apesar dos anos de estrada.

Mas, por favor, entenda: hoje eu preciso sair só! Por quê? Por sobrevivência!

Uma louca vontade de mudar de estação, de buscar uma quietude diferente, de fazer o que eu nem mesmo planejei.

Silêncio! Eu quero buscar o silêncio por entre as ruelas tristes que circundam a avenida principal, que ainda é a mesma, na qual eu me aconchegava quando criança.

Crescer faz bem, realizar a cada dia é maravilhoso, mas algo falta do tempo dos carrinhos de rolimã.

Minha vida está sendo levada a sério há tantos anos que eu preciso sair só hoje, sem a mínima possibilidade de imaginar que à noite eu terei que discutir qualquer situação, especialmente a nossa relação.

Sinto que não precisamos disso, porque o caminho não foi, não é e não será perfeito.

Preciso recarregar as energias, retomar a minha vida e repensar os feitos e desfeitos que me fizeram chegar até aqui.

Assim como uma criança, eu preciso isolar-me por um tempo para brincar com meus pensamentos. Não, não farei arte alguma, somente contemplarei a arte da vida.

Quem sabe não flanarei na noite de hoje? Pense nisto e no prazer que terei. Pense na escuridão que lá fora já me aguarda. Pense no meu amor. Um amor puro, construído com firmeza, tolerância e fidelidade.

Não se aflija e me entenda: eu voltarei, mas de antemão já aviso: meu namoro hoje será, sem palavra alguma, com a lua cheia que insiste em chamar-me lá nas alturas.

(Publicada no livro PROSA NA VARANDA 3 - Grêmio Literário Patrulhense - lançado em 01/12/2015)

Rosalva
Enviado por Rosalva em 02/12/2015
Reeditado em 02/12/2015
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